Arquivos OPINIÃO - Revista Ganja https://revistaganja.com/category/opiniao/ Imprensa informativa coletiva Wed, 02 Aug 2023 21:31:44 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://revistaganja.com/wp-content/uploads/2023/07/cropped-revistaGanja_favicon-32x32.png Arquivos OPINIÃO - Revista Ganja https://revistaganja.com/category/opiniao/ 32 32 OS BILIONÁRIOS E A CANNABIS https://revistaganja.com/opiniao/os-bilionarios-e-a-cannabis/ Mon, 20 Mar 2023 16:08:37 +0000 https://revistaganja.com/?p=4314 Entenda a relação (e influência) dos bilionários sobre a cannabis. ''É fundamental lançar esse olhar sobre as pessoas que vão investir nesse mercado num cenário de legalização ou flexibilização sobre a cannabis e seus subprodutos''.

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Ilustração: @fabioescreve | Texto: Hugo S.

Recentemente as redes sociais foram novamente insufladas de cortes polêmicos do ricaço Elon Musk em apologéticas baforadas de cannabis com o podcaster Joe Rogan em 2018, e alegou já ter feito uso e defendido a planta em outras ocasiões. Mas o que isso significa? E, indo mais a fundo, o que pode estar implícito? O mercado bilionário que a indústria da cannabis tem se tornado na última década nem sempre deve ser encarado como uma resposta positiva quando o assunto é a legalização e a reação em cadeia que viria deste processo, que tem sido operado principalmente no sentido da flexibilização de leis proibicionistas juntamente da adaptação do “mercado” a este novo cenário. Com isso em mente, vamos tentar iluminar essas questões.


Primeiramente, precisamos entender o que é um bilionário. Grosso modo, é a pessoa que alçou a fortuna privada de 10 dígitos antes da vírgula. A maioria de nós não vê isso nem brincando na calculadora, é até difícil de ler à primeira olhada. Antes dessas pessoas se tornarem figuras públicas, esses números só eram mais comuns de serem citados em cálculos astronômicos – massas estelares, idade do universo, distâncias cósmicas – ou, numa dimensão um pouco “menor”, essas cifras também podiam e podem ser vistas no orçamento de países inteiros. Hoje, entretanto, elas estão nos bolsos de pouco mais de 2600 pessoas mundo afora, os quais juntos possuem mais de 13 trilhões – ou 13 mil bilhões – de dólares em patrimônio. Isso quer dizer que só os mais ricos dos mais ricos acumulam mais de 13% do PIB mundial – cerca de 96 trilhões. Elon Musk é o segundo nessa lista.


A partir dessa perspectiva, qualquer coisa que esse homem fizer em relação à cannabis terá um impacto sobre a sociedade. Os contribuintes americanos, por exemplo, arcaram com US$ 5 milhões, pois a empresa pública NASA (Agência Aeroespacial Americana) resolveu realizar uma testagem de uso de substâncias em nos funcionários da Space X, empresa de Musk, após o episódio com Rogan. Sem entrar no mérito da questão se é certo ou errado, o fato é que o dinheiro de impostos foi usado em benefício da empresa que obviamente tinha condições de arcar com esse gasto – ou investimento, depende do ponto de vista. É comum em tempos de crise os Estados “socorrerem” grandes empresas com aportes gigantescos, mas não foi este o caso, em que o próprio dono da empresa semeou a polêmica. Afinal, US$ 5 milhões nem deveria ser muito para alguém que é herdeiro de uma fortuna que veio da mineração de pedras preciosas na África do Sul durante o Apartheid – regime de segregação racial imposto sobre a África pelas superpotências no século passado. E essa é só uma das concessões feitas pelo estado norte-americano ao sul-africano Elon Musk. Vale lembrar que se a propaganda é a alma – ou a arma – do negócio, no mundo das “figuras públicas” alguém como Musk que literalmente “vende ciência” terá posições cientificamente compatíveis com as descobertas medicinais da cannabis, além de mantê-lo próximo dos interesses da juventude – nada é mais político do que isso, e ninguém precisa ser “mais político” do que um multibilionário.

É fundamental lançar esse olhar sobre as pessoas que vão investir nesse mercado num cenário de legalização ou flexibilização sobre a cannabis e seus subprodutos.

Sim, queremos a cannabis legalizada “a todo custo”, mas qual o custo que estamos dispostos a pagar? Pois seria muito bom termos lojinhas de plantas orgânicas, cultivadas em grows domésticos só com o suprassumo das melhores genéticas. Mas quando um mercado se abre, ninguém quer ficar de fora, sobretudo quando a estimativa do mercado ilegal já possui valores dantescos. Resumindo: quem tem grana tá de olho – e também faz lobby político. Quem ainda está de fora dificilmente perderá esta oportunidade de ouro. Estamos falando aqui de pessoas que vão investir na indústria da cannabis – estes não seremos a maioria de nós. Os usuários de hoje não serão os cultivadores de amanhã, estes continuarão comprando sobre a lei do “menor custo-benefício”, como tem sido a vida desde a Revolução Industrial, no mínimo. Fora toda a gama de produtos, principalmente os farmacêuticos já tão adaptados à produção industrial em larguíssima escala e distribuição internacional. A “rede” já está pronta, só esperando pelo novo produto. Daí pra frente é “arrisque-se quem puder”.

Sobre o mercado canábico, as notícias mais animadoras quase sempre não são mais do que respostas óbvias. Estima-se um pequeno aumento da empregabilidade da população, o que é evidente pois o mercado já existe e as “vagas de empregos” já estão ocupadas, porém são informais – e criminosas. O que mudará, certamente, é o empregador. Pouco se fala em anistia aos condenados por “trabalharem ilegalmente” com cannabis. Ainda que a seja um negócio bilionário, gere renda e novas oportunidades, nos EUA – país que mais avançou e lucrou no sentido do beneficiamento e comércio de cannabis – ainda possui a maior população carcerária do planeta em números relativos e absolutos – em sua maioria afroamericanos, seguidos dos hispânicos. Grande parte deles graças a racializada política anti-drogas. Sem anistia, só restaria aos comerciantes ilegais de hoje trocarem de atividade, provavelmente para outra atividade criminosa. Afinal, o debate sobre a legalização não pode estar centralizado na “melhor lógica comercial”, como se o comércio por si só pudesse sinalizar grandes mudanças estruturais – tão estruturais como toda História que tangencia a proibição da cannabis.

Mas se isso parece apenas uma futurologia, essa perspectiva acaba de se tornar mais observável pois a “mão invisível” já pariu os primeiros bilionários maconhistas. Enquanto o rapper Jay-Z investe em fundos de apoio a negócios de cannabis da população afroamericana, quem tem ficado mais rico com isso não parece vir deste grupo. O mais ilustre deles também é o primeiro bilionário deste ramo, posto reconhecido pela Forbes em 2019, e se chama Boris Jordan. CEO e dono de 31% da “Curaleaf”, o norte-americano filho de mãe e pai russos não só é descendente de “czaristas” – pessoas que compunham a corte do Czar, o soberano do império – como também ajudou a desmontar a própria União Soviética, trabalhando na transição do governo socialista para um regime capitalista e participando da privatização de bens públicos no início dos anos 90, chegando a trabalhar para agência responsável por estas privatizações. Acredite, um homem desses tem mais com que se preocupar do que com o bem-estar geral da população. Prova disto é que apenas 7 anos depois do fim da URSS, a novíssima bolsa de valores da Rússia quebrou, trazendo graves consequências para o país. Inclusive, ele é acusado de fraudes financeiras – o que não é nenhuma novidade em se tratando dos bilionários, vide o recente caso dos proprietários das “Lojas Americanas” no Brasil.

Mais um a se meter no negócio da cannabis legalizada é o britânico Maximillian White. Mas que nome! Aos 17 anos assumiu o negócio da família, um pub, se tornando o primeiro britânico menor de idade com uma licença para vender álcool, o verdadeiro privilégio de ser “white”. Em 2020 começou a erguer a maior plantação de cannabis medicinal da Europa, em Portugal, um investimento bilionário, e ele mesmo relata que “enquanto tudo despencava durante a pandemia, os negócios com a cannabis cresceram mais de 60%”, e é essa a lógica: todo desastre vem acompanhado de uma oportunidade. Mas será que isso se aplica unicamente a indústria da cannabis? Durante a pandemia de 2020 a fortuna somada dos bilionários cresceu a mesma cifra de 60% em relação aos 14 anos anteriores. Destes, os 10 mais ricos, incluindo o Mr. Musk, duplicaram suas fortunas – o dado é de um relatório da Oxfam (Oxford Committee For Famine Reliefe / Comitê de Oxford para Alívio da Fome). A pandemia fez dos ricos mais ricos, seja em commodities cannábicas ou não. E vamos lembrar que a demanda por medicamentos psiquiátricos aumentou durante e após a pandemia, e a cannabis medicinal é a mais nova “onda” deste mercado.

A cannabis como commoditie tem perspectivas de encarecimento. O produto tem se valorizado o que claramente aponta para uma tendência regulatória que visará beneficiar quem já pode investir e lucrar com o setor, o que está longe da ampla oferta pública que poderia ter uma simples planta.

A nós, meros mortais, só nós resta a esperança de dias melhores e menos opressores. Imagina só, a maconha legalizada mas não poder fumar em paz…


GANJALIZE-SE

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UM OLHAR MACRO https://revistaganja.com/arte-visual/um-olhar-macro/ Thu, 02 Mar 2023 19:28:59 +0000 https://revistaganja.com/?p=4265 FOTOGRAFIA DE CANNABIS MATCA FILMS: Cannabis Creative Agency Os tricomas e o universo dentro da planta. A fotografia de cannabis é uma forma de arte única, combinando a habilidade da fotografia com o conhecimento da planta de cannabis e sua cultura.Agência criativa da Matca Films é um grupo de artistas que busca captar a essência […]

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FOTOGRAFIA DE CANNABIS

MATCA FILMS: Cannabis Creative Agency

Os tricomas e o universo dentro da planta.

Tricomas de uma planta de cannabis em plena floração avançada.

A fotografia de cannabis é uma forma de arte única, combinando a habilidade da fotografia com o conhecimento da planta de cannabis e sua cultura.
Agência criativa da Matca Films é um grupo de artistas que busca captar a essência da planta buscando atingi-la. O mundo dentro da planta sagrada é incrível, um universo de tricomas pode ser descoberto ao visualizar as flores com lentes macro. Essas imagens que vemos a seguir foram feitas em estúdio e foram o resultado de milhares de imagens que compõem uma só. É assim que os tricomas de uma planta se parecem sob maximização de 10x.
As cabeças dos tricomas perfeitamente formadas, mas ainda claras, darão a você um efeito alto, mais limpo e estimulante, com menos efeito sedativo; É a melhor margem de colheita para variedades Indica pesadas como a que vemos aqui um Gorila Ghost.

Tricomas

Criadores de conteúdo no mundo da cannabis – MATCAFILMS


“Somos apaixonados pela cultura por trás da planta, pelas histórias das pessoas que fazem esse movimento e pelos caminhos que ela nos leva.
Nosso objetivo é viajar e conhecer todas as 420 culturas que o mundo tem para nos oferecer. O Brasil está entre os nossos principais destinos deste ano de 2023, e queremos mergulhar na cultura do país e retratar o que está acontecendo atualmente com a cannabis.
Estamos muito felizes em colaborar com a REVISTA GANJA e ansiosos pelo que está por vir”.

Matias Cardozo
Founder / Creative Director

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CÂNHAMO E SUSTENTABILIDADE https://revistaganja.com/atualidades/canhamo-e-sustentabilidade/ Mon, 23 Jan 2023 19:14:10 +0000 https://revistaganja.com/?p=4255 O estudo abordará a planta Cannabis Sativa L., em específico, a subespécie Cannabis Ruderalis e seu potencial voltado à sustentabilidade e ao meio ambiente. Na análise, observaremos como a utilização da planta trará novas perspectivas à sociedade, visando os meios de produção, renovação do mercado baseado no petróleo, fitorremediação, construção de moradias, sequestro de carbono, desintoxicação do solo, dentre outros aspectos em que a planta atuaria.

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O CÂNHAMO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Texto por: Murilo dos Santos Barioni

Atualmente, o sistema globalizado adota o combustível fóssil como principal fonte energética e criação de produtos como, por exemplo, o plástico. Nós estamos vivenciando a crise deste sistema não-renovável e suas consequências perante o consumo exacerbado desta fonte energética. Além disso, a contaminação mundial baseada neste modelo econômico é uma realidade, em que influencia nossas vidas diretamente, seja nos planos terrestres e nos nossos mares.
O impacto ambiental que causa esse modelo baseado no petróleo tornou-se irreversível para diversos ecossistemas que sofrem com o descarte inapropriado destes produtos. Desta perspectiva, surge a necessidade de refletirmos sobre o modelo mundial e regional.
O mundo caminha ao passo das discussões sobre aquecimento global, mudanças climáticas e eventos extremos que estão ocorrendo nos últimos séculos, após a revolução industrial. Nós, pertencentes à espécie humana, temos o dever de propiciarmos novas tecnologias a fim de colaborarmos com a evolução da espécie e refletirmos sobre as futuras gerações, ao meio ambiente integrado e sustentável, pois somos os agentes causadores dos benefícios e malefícios que provocamos perante a Terra e aos outros animais.
Diante desta argumentação, cientistas de diversas áreas estão trabalhando em conjunto para colaborar com novas formas e modelos sustentáveis para a proteção integral do meio ambiente, com soluções eficazes para combatermos a crise energética que assola o mundo globalizado.
A revolução mundial condiz com a economia verde e sustentabilidade, que ganha projeção cada vez mais acentuada, após a Conferência Rio+20, que preconizou a renovação e compromisso político com o desenvolvimento sustentável por meio da implementação de temas novos e emergentes para o debate sobre o futuro que queremos para os próximos vinte anos.
Pois assim, o objetivo do estudo é salientar os pontos evolutivos com a dominação da fibra de cânhamo e em como a utilização deste novo modelo sustentável irá atingir diversos aspectos sociais, econômicos e sustentáveis.

A HISTÓRIA DA CANNABIS SATIVA L-1753.
Primeiramente, para entendermos o que é o cânhamo, temos que entender o que é essa planta e quais são suas características, sendo assim, a classificação científica da planta, segundo Russo, 2001:
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Rosales
Família: Canibaceae
Gênero Angiosperma – Cannabis L
Espécie: Cannabis Sativa L-1753
Subespécie: Cannabis Sativa; Cannabis Indica; Cannabis Ruderalis.

A planta foi batizada pelo sueco botânico Carl Nilsson Linnaeus, em 1753, dando assim o nome à espécie Cannabis Sativa L-1753, no entanto, encontramos registros mais antigos sobre a utilização da planta pela humanidade.
O domínio desta planta caracterizou a evolução da espécie no que tange a diversos meios econômicos, como por exemplo, a fabricação de vestuário, produtos alimentícios, construção e moradia, papéis, cordas, velas, dentre outros produtos. Seus registros em fósseis comprovam que essa espécie existe há mais de 38 milhões de anos (Barioni, 2021).
Registros da China indicam rastros da utilização da fibra de cânhamo, desde o Neolítico, que passam a ser bastante comuns a partir de 4.000 a.C. Por volta de 2.300 a.C., escritos da região de Taiwan destacam as vastas plantações de cânhamo da época (FRANÇA, 2018).
Pode-se dizer que, na Europa, a Cannabis teve sua introdução de duas formas, por dois modos distintos, primeiramente, destaca-se que através dos citas, que começaram a disseminar a planta para a Grécia e para a Rússia, sendo esta, uma exportadora de volumes consideráveis de fibras de cânhamo para o restante do continente até o início do século XX. Segundamente, a planta foi reintroduzida, em outra região do continente europeu: trazida pelas mãos dos árabes, que a introduziram na Península Ibérica. Vale destacar um registro do grego Pedânio Dioscórdio, o qual comentava que a planta era muito útil à vida humana, pois dela se faziam cordas fortíssimas a partir de suas fibras que, mais tarde, seriam utilizadas nos navios das grandes navegações (FRANÇA, 2018).
Da Europa à África, que nunca mais deixaram de utilizar as fibras do cânhamo, a planta seguiu para a América e para as terras do Pacífico, conforme foram ocorrendo as grandes navegações e explorações de outros continentes pelos países colonizadores. É seguro dizer que a própria expansão dependeu das fibras e da massa de cânhamo, as quais eram muito utilizadas tanto na produção de velas, quanto de cordas para os navios utilizados nas expansões marítimas (FRANÇA, 2018).
A cânabis é uma planta extremamente versátil, liderava o mercado econômico dos povos antigos, no entanto, após a revolução industrial, as empresas não viam rentabilidade, mercados estes, farmacêuticos, algodão, tabaco, álcool, petróleo, juntamente com a questão social aplicada, em que grupos marginalizados da sociedade faziam o uso fumado da planta (negros e indígenas), com isso, os modelos estatais coibiram e proibiram a sua utilização para quaisquer finalidades.
Vale ressaltar que, como a planta é um concorrente direto dessas grandes indústrias, conforme citado no parágrafo anterior, pelas características de suas fibras fortes e sua versatilidade sustentável, essas empresas mitigaram o uso da cânabis para dedicarem a produção exclusiva do petróleo, que gera grandes consequências ao meio ambiente.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A ECONOMIA VERDE.
O desenvolvimento sustentável sob o prisma da sustentabilidade significa bem-estar, igualdade de oportunidades e meio ambiente integrado. Diante dessa perspectiva, o meio ambiente preservado constrói a igualdade entre às gerações para alcançar a mesma qualidade de vida da geração anterior, surgindo assim à necessidade de evitar a desigualdade de recursos de uma geração para outra. O uso sustentável dos recursos naturais demonstra um importante aspecto a ser seguido por boas práticas para mantermos o meio ambiente regular e protegido (Diniz e Bermann, 2012).
A noção de economia verde é mais recente que o conceito de desenvolvimento sustentável. Pode-se definir economia verde como aquela que “resulta em melhoria do bem-estar humano e equidade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica” (United Nations, 2011). Uma economia verde possui baixas emissões de carbono, eficiência no uso de recursos e inclusão social. Os autores dessa linha de pesquisa argumentam que a evidência empírica mostra dois pontos: não há dilema entre sustentabilidade e crescimento econômico; a transição para uma economia verde pode ser feita tanto por países ricos quanto por países pobres (Diniz e Bermann, 2012).
Desta forma, com a cânabis em nosso modelo normativo e regularizado, temos uma infinidade de possibilidades sustentáveis para explorarmos. Alguns exemplos dessa perspectiva são: redução e sequestro de dióxido de carbono (C02) desde o início do plantio (outdoor) até a construção do tijolo de cânhamo utilizado nas moradias; a biorremediação/fitorremediação, com capacidade de limpeza de solos poluídos ou contaminados; renovação do solo, pois as raízes da planta renovam a estrutura da terra; a biomassa, resultante das folhas que caem, devolvem nutrientes ao solo; a não utilização de pesticidas, pois a planta desenvolve uma estratégia natural de prevenir o aparecimento de ervas daninhas, dispensando o uso de herbicidas; a preservação do ecossistema e aumento das populações de abelhas; a criação de produtos “eco-friendly”, que são artigos industrializados das mais diversas áreas feitos à base de cânhamo; o biocombustível ou o biodiesel a base da planta, que deve ser um substituto biodegradável para o diesel do petróleo, sendo mais seguro para transporte e armazenagem, além de menos inflamável; os materiais de construção, como por exemplo, o “hempcrete”, feito a partir do talo da planta, altamente durável e com o sequestro de carbono pelo concreto e cimento a base do cânhamo e; a substituição das indústrias têxtil, papel, plástico, madeira, couro, dentre outros.
Esses produtos são realidade nos países regulamentados, propiciando um novo estilo de vida para essas civilizações. Tendo em vista que a cânabis é uma planta sustentável, adotar esse modelo para o Brasil geraria uma nova forma de economia e desenvolvimento, propiciando a evolução da nossa sociedade.
Os reflexos da economia verde e desenvolvimento sustentável baseado no mercado canábico abrangem tanto nossa Constituição Federal de 1988, como também a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, Suécia, em junho de 1972.
A partir da década de oitenta, o mundo deu atenção para os temas emergentes, propiciando a preocupação com o meio ambiente. Com isso, a evolutiva Constitucional do Brasil avançou nesta área, ao exemplo dos artigos 225, que define os objetivos e conduta do Estado e da sociedade visando à questão ambiental, atrelando questões relevantes a serem protegidas, o artigo 24, inc. VI, propiciando a atribuição legislativa à União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre o tema do meio ambiente e controle da poluição, o artigo 170, inc. VI, dispondo sobre o desenvolvimento à sustentabilidade, o artigo 186, inc. II, condicionando boas práticas quanto à imposição à propriedade rural para a utilização adequada dos recursos naturais e disponíveis e a preservação do meio ambiente.

A Carta Magna evoluiu ao entendimento de que o meio ambiente pertence à categoria do direito difuso, não se esgotando apenas no indivíduo, sendo de responsabilidade coletiva. Com isso, a temática abordada representa a sociedade como um todo, que deve manter esforços para a preservação e proteção dos recursos naturais.
A cânabis está integrada nessas temáticas, tanto do desenvolvimento sustentável como com a economia verde, além de estar incluída dentro da Lei Maior, com função social, econômica e ambiental.

A REVOLUÇÃO VERDE: O CÂNHAMO E A VISÃO SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL.
A cânabis pode ser meio para produção de diversos produtos. Hoje, no mundo, já vemos a revolução verde ser instaurada, como por exemplo, nos Estados Unidos da América, Canadá, Espanha, Portugal, Alemanha, Ucrânia, Holanda, dentre outros países que já utilizam a planta como meio e desenvolvimento econômico.
Os exemplos dos produtos feitos à base de cânhamo é o “hempcrete”, concreto bioagregado, que são feitos a partir das lascas de cânhamo de pequenos pedaços de madeira do caule/talo da planta. Assim, são misturados com cal ou cimento, criando um conjunto de parede de isolamento fibroso de longa duração, que é resistente ao fogo, sequestra carbono e repele mofo e pragas.
Com a utilização do concreto de cânhamo, traremos uma inovação ao que tange ao tema urbanístico sustentável, o “hempcrete” fica mais forte com o passar dos anos, por sequestrar o dióxido de carbono da atmosfera. Esse processo acontece na ligação do cal usado no concreto de cânhamo, que está na forma de hidróxido de cálcio, pois assim, o “hempcrete” começa a absorver o C02 da atmosfera para criar carbonato de cálcio, ou calcário. Por conta dessa característica, o produto é na verdade um material carbono negativo. Além disso, uma vez fundido, o “hempcrete” requer menos água do que o cimento tradicional para curar, contribuindo com a redução da utilização hídrica neste processo.
Os benefícios desta tecnologia voltada às moradias nos traz uma nova perspectiva, podendo ser produzido em largas escalas e visando projetos sociais de moradia sustentável, o concreto de cânhamo é capaz de armazenar calor, contribuindo para a eficiência energética de suas construções, funcionando como um isolante térmico, em quaisquer climas, seja no verão ou inverno, a capacidade de isolamento térmico dessas paredes é excelente e requer menos energia para aquecer ou esfriar essas construções.
As construções feitas à base do concreto de cânhamo são resistentes ao fogo e a água, como também a rachaduras, repele o mofo e pestes. Essa tecnologia já era utilizada pelas sociedades antigas, conforme estudos liderados pelo cientista indiano M.R. Singh, no século 6 d.C, nas cavernas de Ellora, na Índia, foram encontrados gessos de cânhamo preservados.
O cânhamo industrial pode substituir o mercado do petróleo e seus subprodutos, como plástico, nylon, e o algodão, utilizado no mercado vestuário. As fibras da planta são fortes, podendo ser produzidos quaisquer materiais. Hoje, temos até aviões criados a base do cânhamo, que fazem a utilização do próprio combustível a base da planta.
Com a manipulação da fibra de cânhamo industrial a revolução atingirá o meio social, político, jurídico, econômico, ambiental, dentre outros. Como observado neste capítulo, o cânhamo possui propriedades únicas e versáteis. Neste século, em que estamos discutindo sobre questões irreversíveis sobre o planeta e as mudanças climáticas, propor saberes sobre a Cannabis e em como essa planta seria uma forte aliada para a substituição desse sistema não-renováveis.
Como dito, o petróleo como base energética um dia se esgotará. Nossa água potável, recurso indispensável para a vida, está sendo utilizada de maneira inconsciente. Nossas terras e mares contaminados pelo nosso descaso com a natureza. Toda essa gama de fatores, incluindo a ausência de boas práticas da população mundial como um organismo prejudica nosso planeta.
A revolução verde já é uma pauta discutida entre diversos profissionais dos mais nobres ofícios, em que a dedicação dos cientistas é criar e desenvolver um estilo de vida que contemple o todo.
A visão social que aborda o tema sobre o cânhamo e o desenvolvimento sustentável implica na mudança de todo esse sistema construído, pelas nuances das participações do Estado ao individuo comum, a regulamentação da indústria do cânhamo no Brasil passará pelas transformações em que a sociedade vivenciará novos tempos. Com isso, a economia baseada no setor será ampliada, com base na capacidade do cânhamo de sequestrar carbono e potencialmente ser um meio de carbono negativo, a produção potencializará o setor de crédito de carbono. “Aliás, há uma tendência do Brasil aumentar a capacidade de atendimento no mercado de carbono, sendo que a demanda pode ir de 22,3% a 48,7% dos créditos de carbono do mundo” (Bastos, 2022).
A regulamentação do mercado do cânhamo é um dever do Estado, tendo em vista sua utilização e benefícios que são amplamente difundidos por outras sociedades e que, como visto, até mesmo pelas nossas antigas civilizações. O potencial sustentável da Cannabis Ruderalis nos meios de produção, energia limpa, recuperação de solos, biocombustível, concretos, já são realidade ao redor do mundo.
Ao que tange a visão ambiental, propor ensinamentos sobre o cânhamo é refletir sobre a construção de uma cidade sustentável, que vise moradias verdes, vestuário a base da fibra, automóveis e biocombustível a base da planta. Pensarmos sobre a arquitetura e os meios de produzir nossos edifícios em ampla conexão com a natureza (como por exemplo, Singapura), é um passo para inovarmos nossas cidades ao modelo sustentável.
A conexão com o meio ambiente é um direito difuso, ou seja, de responsabilidade de todos os cidadãos. O Brasil precisa adotar, urgentemente, modelos que amenizem o impacto ao meio ambiente. Esse modelo pelo qual a sociedade global está inserida consome muito dos nossos recursos naturais que são finitos. As próximas gerações tem o direito de um meio ambiente integrado, que vise à plena conservação dos recursos naturais.
A revolução verde com base na utilização da planta para a produção de subsídios, insumos, produtos e subprodutos, desenvolverá um novo estilo de vida a sociedade brasileira.

CONCLUSÃO.
O cânhamo sempre foi aliado da humanidade, como vimos no estudo, às sociedades antigas faziam a utilização da planta para diversos meios e finalidades. A proibição se deu por meio da revolução industrial e o racismo e xenofobismo perante classes marginalizadas das sociedades.
Ao que tange a revolução econômica, está deve estar ligada ao planejamento político, a respeitar os recursos naturais e propiciar a igualdade das futuras gerações. Devemos refletir e discutir sobre os potenciais benefícios do cânhamo, como fonte de novas perspectivas e economias verdes, focados no desenvolvimento sustentável e social para construirmos nossas cidades sustentáveis.
O mundo se declina ao tema, com a produção de novas indústrias, geração de empregos e novas finalidades que são incluídas nos sistemas normativos e regulatórios. O Brasil, tendo em vista seu território continental, deve propor novos saberes e conhecimentos aplicados para evoluirmos no que tange nossa coletividade e meio ambiente.
Repensar sobre os mercados não-renováveis, mudanças climáticas, aquecimento global e o futuro das próximas gerações é um dever de todo cidadão, pois o tema é considerado como direito difuso. O financiamento estatal e o planejamento político voltado ao tema do cânhamo e a tecnologia que pode ser criada e construída, voltadas aos meios sustentáveis e produzidos a partir de boas práticas, a respeitar o solo, os recursos hídricos e ao consumidor final, deve ser preconizado como modelo principal e ético a ser aplicado pelas empresas de pequeno, médio ou grande porte.
Por fim, o estudo rompe com o pré-conceito sobre o tema da Cannabis Sativa L-1753, trazendo novos aspectos, quanto ao debate sobre o meio ambiente, sendo que a planta pode ser utilizada para diversas finalidades, visando às questões sociais, econômicas e sustentáveis.

REFERÊNCIAS.
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ADWA CANNABIS. A sustentabilidade nos usos da Cannabis, 2021. Disponível em: https://adwacannabis.com.br/a-sustentabilidade-nos-usos-da-cannabis/. Acesso em: 17/11/2022
BARIONI, Murilo. A descriminalização da maconha no Brasil. Tese de Conclusão de Curso. São Paulo, 2021.
BASTOS, Fernanda. Brasil pode suprir metade da demanda dos créditos de carbono até 2030, diz estudo. Portal: Exame, 2022. Disponível em: https://exame.com/esg/brasil-atendera-quase-metade-dos-creditos-de-carbono-ate-2030-diz-estudo/. Acesso em: 12/11/2022
DELFINO, Lucas. Análise do cânhamo como alternativa sustentável para um modelo de produção e consumo circular. Tese de Conclusão de Curso. Brasília, 2021.
Eliezer M. DINIZ e Celio BERMANN. Economia verde e sustentabilidade. Estudos avançados, 2012, São Paulo. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142012000100024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/XhRBBkxrK8qcBXDxczvHY9f/?lang=pt# . Acesso em 20/10/2022
FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. História da Maconha no Brasil. Três Estrelas. São Paulo, 2018.
FREITAS, Vladimir Passos de. Reflexos da liberação da maconha sobre o meio ambiente. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa Maria, RS, v. 15, n. 1, e36787, jan./abr. 2020. ISSN 1981-3694. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/1981369436787. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/view/36787. Acesso em: 15/11/2022.
LUZ, Maria Ribeiro. Cannabis e sustentabilidade. Portal: Sechat, 2021. Disponível em: https://sechat.com.br/cannabis-e-sustentabilidade/. Acesso em 10/11/2022
SANTOS, Lara. 1001 usos do cânhamo: a produção de concreto – Hempcrete. Portal: Kaya Mind, 2021. Disponível em: https://kayamind.com/canhamo-na-construcao-civil/. Acesso em: 12/11/2022
SANTOS, Mariana Oliveira. O cânhamo como material de construção: Viabilidade e Oportunidade. Dissertação de Mestrado. Porto, 2013
THE GREEN HUB. Hempcrete: concreto feito à base de cânhamo na construção civil. Disponível em https://thegreenhub.com.br/hempcrete-concreto-feito-a-base-de-canhamo/. Acesso em: 10/11/2022


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As perspectivas antropológicas da CRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA no Brasil https://revistaganja.com/legislacao/as-perspectivas-antropologicas-da-criminalizacao-da-maconha-no-brasil-2/ Tue, 20 Dec 2022 13:26:03 +0000 https://revistaganja.com/?p=4241 A maconha associada às classes marginalizadas foram um dos preceitos que a supremacia branca utilizou para criminalizar os grupos latinos e negros. A história traduz isso perfeitamente, pois o Brasil ainda aplica esse modelo do sistema romano, inquisitorial, coercitivo e violento.

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Texto por: MURILO BARIONI

Imagem por MARCUS COSTA

ARTIGO

AS PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS DA CRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA NO BRASIL.

Os discursos propiciados pelos imperialistas motivaram a desinformação sobre o tema da maconha no território latino americano. Neste estudo baseado nas áreas das ciências sociais, observaremos as nuances do epistemicídio e como essa modalidade é utilizada até os dias atuais para a alienação da sociedade.

A maconha está incluída neste sistema criminalizado pelo fato de estar associado às classes marginalizadas da sociedade. Partindo da história, podemos notar um sistema necrófilo, com suas raízes coloniais e inquisitoriais.
Analisar uma pequena porção desse cosmos que é o assunto da maconha no Brasil nos demonstra a face oculta de um Estado que está mais presente nesta perspectiva do que na “forma” de um ente personalizado para representar seu povo.
O estudo percorre suas linhas em duas teses vinculadas ao modelo eurocêntrico, aos quais os colonizadores criaram este sistema de Estado e “saber civilizatório epistêmico”, apagando e assassinando a história do povo brasileiro, sejam os negros ou indígenas, por acreditarem que eram superiores aos colonizados.
As peles não-brancas não eram considerados como parte da humanidade pelos Europeus. Isso não somente aconteceu com os povos da África, mas também com os nativos originários da América Latina. Seus corpos eram vistos como objeto, como parte da engrenagem para obtenção do lucro.
O epistemicídio explica o lapso que temos perante nossa própria história, pois foi utilizado como veículo para a alienação. A crítica percorre quanto aos saberes pedagógicos que foram excluídos da sociedade civil brasileira, pois somente um povo que conhece sua história pode progredir rumo às conquistas sociais.
O racismo e o xenofobismo são exemplos dos meios de discriminação da cultura não-branca, modelo que são aplicados o genocídio, etnocídio e epistemicídio para essa comunidade que sempre esteve às margens da sociedade. Há que se ressaltar sobre a necropolítica, adotada para objetivar esses indivíduos, tornando-se sem valor humano o indivíduo, podendo ser violado legitimamente seus corpos e culturas.
A maconha associada às classes marginalizadas foram um dos preceitos que a supremacia branca utilizou para criminalizar os grupos latinos e negros. A história traduz isso perfeitamente, pois o Brasil ainda aplica esse modelo do sistema romano, inquisitorial, coercitivo e violento.
A construção do epistemicídio social envolto sobre o tema da maconha está ligado aos interesses de outras soberanias, envolvendo esses discursos manipuladores diretamente nos países latino americanos, com drásticas consequências para estes países.
O discurso político-jurídico transnacional é um referencial para discutirmos sobre como as ideias coloniais ainda estão fortemente vinculadas às nossas raízes históricas e como essa ação do passado ainda reflete nosso plano atual. Esse discurso, capaz de envolver nações a um único objetivo, explica a geopolítica utilizada para fomentar a guerra às drogas, com ideais e práticas imperialistas e eurocêntricas.
Apresentar estudos que ressaltam a história da maconha e do povo brasileiro enriquecem os saberes pedagógicos e perspectivas que o próprio Estado excluiu de nós. Os saberes e experiências de populações africanas, afrodiaspóricas, indígenas e latino-americanas constroem o transmodernismo, com filosofias culturais e antropológicas, romperemos o discurso eurocêntrico hegemônico.
A tese (de)colonial está presente nesta construção de progresso social e histórico, pois a colonização excluiu nossos saberes antropológicos, sendo um fator prejudicial para a própria autoanálise interna das experiências cotidianas. Somente construindo novas formas de pensamento e reflexão, com dedicação da sociedade civil, romperemos com a ignorância propiciada para a ausência de conhecimento coletivo em diversas áreas de nossas vidas.
Incluindo essa tese ao estudo, observaremos o racismo epistêmico, como meio para a criminalização da planta. A lei de 1830 que criminalizou o “pito do pango” e demais culturas do povo negro no Brasil, torna-se um parâmetro indispensável para notarmos que esse sistema nunca foi a benefício do povo, traduzindo o desejo do Estado em repressão e opressão das comunidades não-brancas.
Os colonizadores ainda estão entre nós, são glorificados por este sistema, seja pelo nome dos ditadores nas ruas, esculturas como a do Borba Gato, a própria sede dos governantes da cidade de São Paulo é o “Palácio dos Bandeirantes”. Ora, quem foram os bandeirantes senão aqueles que colonizaram este território, aplicando seus modelos necrófilos, de subjetivação e superioridade quanto aos povos que eram dominados. Partindo desse passo, entender a criminalização pela visão antropológica fluída pelas ciências sociais é o caminho para sairmos da inércia e romper com esse discurso racista e xenofóbico sobre a planta e incluímos os entendimentos históricos aos fatos sociais que o epistemicídio apagou da nossa cultura e história propositalmente.
Ao exemplo, se compararmos os cigarros que são usados, tanto o de tabaco como o de maconha, quais são suas diferenças ontológicas e antropológicas? O tabaco foi um meio de economia no sistema escravista, em que suma maioria dos seus comerciantes e consumidores eram brancos. Já a maconha era utilizada pelos povos marginalizados, sejam os negros ou nativos originários, desta forma, incluída aos sistemas criminalizatórios legalistas.
A supremacia branca dominou o sistema atual com suas perversidades. O eurocentrismo e o imperialismo imperaram em soberanias colonizadas, aos quais foram aplicados seus modelos de sistema e projeção do Estado sobre nossos territórios latinos americanos.
O exemplo apreciado acima reforça a ideia do por que drogas como cigarro e álcool são consumidas sem qualquer tipo de regulamentação em relação ao seu uso e o fato da maconha estar inserida no campo criminalizado. A criação de discursos preconceituosos e discriminatórios afastaram as populações negras e latinas do espaço que sempre deveriam ocupar desde a criação deste sistema. As oligarquias que detém o poder nas mãos ditam o “jogo” conforme seus interesses individuais, longe de qualquer preceito coletivo ou democrático, mas apenas visando o acumulo de capital, a exploração do ser e dos recursos naturais como meio para atingir lucros.
A antropologia juntamente com os saberes epistêmicos nos ensina que a cannabis sempre esteve ao lado do homem, pela sua característica versátil e sustentável, sendo meio econômico das sociedades antigas. A história da criminalização está fundada no fato histórico de quando a planta se move das fronteiras do Oriente e caminha para o Ocidente. A planta que era usada como fumo quando era consumida no Brasil, tal qual chamada como “o pito do pango”, usada pelas classes excluídas da sociedade, foi utilizada como meio para a criminalização não da planta, mas sim das comunidades que faziam seu uso.
O discurso do usuário e traficante idealizado pelos imperialistas que foram implementados pelos governos dos Estados Unidos da América, tendo seu estopim em meados de 1970, solidificou a visão do consumo de drogas ilícitas como aspecto epidêmico, subdividindo em classes os brancos e os negros ou latinos. O caráter do usuário era usado para as peles brancas, como um indivíduo de classe média que é “viciado” em drogas ilícitas, visto como o “doente” e a “vítima” da guerra às drogas. Já o traficante era visto como o “inimigo” do sistema, aos quais as características antropológicas se enquadram nas classes marginalizadas, ou seja, negros e latinos.
Discutir sobre o universo da antropologia para visualizar um determinado direito que é infringido por um sistema racista e xenofóbico, viciado na violação de corpos e na superioridade das peles, traduz em um Estado que nunca nos representou, pois seus mecanismos não foram criados para essa finalidade. Entender a planta incluída nesse discurso, notamos que a criminalização não é para todos, mas sim, para os estereótipos já modelados como inimigos.
Ao que tange o conhecimento jurídico, vale ressaltar contradições que são aplicadas para a sociedade civil, tendo em vista que a Constituição Federal/88 preconiza os progressos sociais e garantias fundamentais que visam os direitos humanos e deveres cívicos.
A CFRB/88 preconiza direitos como: a proteção à vida, qualidade de vida, criação de empregos, educação, saúde, sustentabilidade, proteção às culturas e modos de viver, religioso, consumista, taxação de impostos, etc. Quando inserimos a planta nesse meio, observamos que sua atuação perante a humanidade contempla esses temas que foram suscitados e diversos outros que são normatizados pela Lei Maior.
Ocorre que a ausência do Poder Legislativo para ampliar a regulamentação e normatização da cannabis no modelo legalista impõe uma lacuna no tema, ao qual a maconha continua inserida no sistema punitivista, prejudicando a própria sociedade que a proíbe, tendo em vista os exponenciais benefícios perante a implementação da planta aos sistemas legais e lícitos.
A lei de drogas nº 11.343/06, editada para que houvesse a diferença entre o usuário e o traficante, apenas contribuiu para a aplicação da seletividade penal, ampliando o número de encarcerados no Brasil e contribuindo para o caos social instaurado, sendo que cenário social se enquadra em jovens de 18 a 29 anos, negros e periféricos, encarcerados. Dados do IFOPEN classificou que entre 2006 a 2018, após a aplicação da lei de drogas, o número da população penitenciária aumentou em 500%.
Ou seja, a consequência social da aplicação dos modelos eurocêntricos e imperialistas contribuíram para o massacre e a violação de corpos não-brancos, afastando essa comunidade às margens da sociedade. Com a utilização da manipulação dos discursos racistas e xenofóbicos, da aplicação da seletividade penal por um sistema inquisitorial e influenciado pelas soberanias externas, foram propiciados discursos manipuladores para a desinformação da sociedade quanto ao tema, que levaram o encarceramento em massa e morte das comunidades que estão às margens da sociedade.
Sendo assim, o tema da maconha no Brasil visando às ciências sociais e antropológicas caracterizam um campo em que a planta foi inserida para o controle dos dominadores aos dominados. Por mais colonial que pareça ser essa afirmação, a realidade social e a história do Brasil ensinam a verdadeira face do Estado, tendo o artigo rompido com os discursos racistas e xenofóbicos que são ampliados e utilizados pela biopolítica e geopolítica que foram instaurados neste território pelas soberanias externas.
O transmodernismo juntamente com a tese da (de)colinização trará ao Brasil os entendimentos e saberes pedagógicos que foram excluídos de nós. A denúncia ao sistema que não representa o seu povo é um passo para discutirmos e debatermos situações graves que até hoje não estão sendo solucionadas pelo interesse da face oculta do Estado, refletindo suas consequências nesse cosmos coletivo que influencia a vida de mais de 212 milhões de pessoas.
O epistemicídio, juntamente com o genocídio e etnocídio, aplicado por um sistema necrófilo, influenciado pela geopolítica colonial, proporcionaram ausência nos conhecimentos e saberes filosóficos latino-americanas, modelo de manipulação para alienação em massa da sociedade civil brasileira, morte e subjetivação de corpos, essas são apenas sínteses dos instrumentos aplicados pelo nosso modelo colonial.
Ao nos depararmos com a face oculta do Estado, notamos que até hoje os colonizadores representam o interesse individual de uma pequena classe da sociedade. Os espaços de representação são limitados à supremacia branca, identificada pela figura do homem branco, heteropatriarcal e cristão, como representação universal dos padrões de humanidade.
Pois assim, o estudo conclui que os modelos eurocêntrico e imperialista influenciaram na diáspora das comunidades negras e latinas, excluindo e abandonando-os as margens da sociedade. Entender a cannabis com a visão antropológica, observamos os motivos pelos quais a maconha está inserida no sistema criminalizado, o que não condiz com seus benefícios que estão elencados com a Constituição Federal/88 e demais princípios e garantias fundamentais sociais.

BIBLIOGRAFIA:
BARIONI, Murilo. A descriminalização da maconha no Brasil. Tese de Conclusão de Curso. São Paulo, 2021.

BARIONI, Murilo. A guerra falida contra às drogas e o cenário social. 2022. Portal: Migalhas. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/360041/a-guerra-falida-contra-as-drogas-e-o-cenario-social. Acesso em: 22.out.2022.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

BRASIL. Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas). Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília: Presidência da República. [2006]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11343.htm

DEL OLMO, Rosa. A Face Oculta da Droga. 1ª edição. Editora Revan. Rio de Janeiro, 1990.

MACRAE, Edward. Fumo de Angola: Canabis, Racismo, Resistência Cultural e Espiritualidade. EDUFBA. Salvador, 2016.

REIS, Diego dos Santos. Saberes encruzilhados: (de)colonialidade, racismo epistêmico e ensino de filosofia. Educar em Revista, Curitiba, v. 36, e75102, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.75102. Acesso em 20.out.2022.

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BANDO D’POETA – SARAU AUTORAL https://revistaganja.com/bate-papo/bando-dpoeta-sarau-autoral/ Fri, 16 Dec 2022 15:32:41 +0000 https://revistaganja.com/?p=4221 Texto por: Hugo Drosera Recentemente a Revista Ganja incorporou a Poesia Marginal de vez em seu contexto com a chegada de Hugo Drosera como colaborador. Fizemos live, postamos e compartilhamos vídeos e trouxemos para o nosso público expressões diversas da nossa cultura popular contemporânea, em especial a arte da Poesia Falada que chegou com o […]

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Texto por: Hugo Drosera

Imagem por Hugo Drossera

Recentemente a Revista Ganja incorporou a Poesia Marginal de vez em seu contexto com a chegada de Hugo Drosera como colaborador. Fizemos live, postamos e compartilhamos vídeos e trouxemos para o nosso público expressões diversas da nossa cultura popular contemporânea, em especial a arte da Poesia Falada que chegou com o pé na porta na última década com Saraus, Slams, Feiras Literárias e intervenções em vários formatos.

             Como já cantou o Planet Hemp, “não falo só de maconha e tenho muito para dizer”! Fazemos dessa frase um estandarte e hoje trouxemos a arte do “Bando d´Poeta”. O grupo que se formou no final de 2022 – e já tem agenda cheia até Fevereiro do próximo ano. Por enquanto – vem conquistando espaço para a música autoral nos bares da região do Vale do Aço/MG.

A Revista Ganja é apoiadora desta iniciativa e entrou nesse corre, O “Sarau Autoral”, que acontece dia 16 de Dezembro na cidade de Ipatinga-MG, com o apoio de empresas locai, e vem trazer um pouco do resultado da união desses musicos/artistas, em uma apresentação autoral, seguida de um Sarau, com a participação de artistas regionais.

E para completar, trouxemos uma entrevista muito especial com Gabriel Poeta, vocalista e idealizador do projeto Bando d’Poeta:

            Hugo Drosera: Salve, Gabriel! Primeiramente, é uma honra como teu amigo e admirador conduzir essa breve entrevista contigo. Para além da honra, é uma alegria poder também tocar com um artista tão sensível e disposto. Conhecendo isso mais de perto agora, começo te perguntando – bem poeticamente – como é ser entregue a Poesia, fazer disso profissão e por que a decisão de “poetizar” através da música?

            Gabriel Poeta: Primeiramente, a honra é minha, meu amigo. Um prazer ter uma mente brilhante perto! Bom, eu sinceramente, Hugo, acho que a poesia para mim é um Puta castigo, haha… Eu sempre respondo isso pras pessoas quando me perguntam, eu sempre digo a mesma coisa; Eu deixo a poesia fazer o que ela quiser comigo, sou mais escravo dela do que ela de mim, mas depois que tive uma pequena influência no meio Kardecista eu digo; Em relação a poesia eu apenas psicografo. Eu fui quase obrigado a “poetizar” por aí, haha… Falei pra poesia: “Já que vai me usar assim, me alimente pelo menos!” – Aí ela me dá uns trocados as vezes.

            H: Você acabou de voltar da Bahia. Conta pra nós como foram estes últimos anos, em quais projetos você esteve envolvido; e o que você pode nos contar dos planos para o seus futuro próximo?

            G: Minha temporada na Bahia foi muito importante. Tive que entender de uma vez por todas que não sabia muita coisa de quase nada, e que minha maior ferramenta seria a poesia mesmo. Na Bahia a poesia me deu de comer, me levou aonde eu tinha que estar. Lá eu criei o “Sarau Musical”, me juntei ao músico bahiano Júlio Regare, e a produtora cultural Camila Escal, eles foram minha força. Em Arraial d’Ajuda não acontecia nenhum movimento poético mais. Apenas retornei a reviver a poesia naquele lugar. Hoje lá existem 4 fortes saraus. E meu futuro se resume em continuar a deixar essas marcas por onde passar

            H: Uma pergunta bem simples: como você compõe?

            G: Eu não componho, eu pesco, hahaha. Eu fico pescando pensamentos e colocando no papel, depois eu organizo tudo, até parecer ou fazer sentido.

            H: Uma pergunta bem complicada: por que você compõe?

            G: Pra não ter tempo de pensar porque eu existo!

            H: Sei que sua raiz poética vem de antes da cena dos saraus de rua desabrochar no Vale do Aço. Mas você floresceu apresentando saraus, não foi? Conte-nos sobre isso.

            G: Foi sim. Eu escrevo a quase 15 anos da minha vida e nunca imaginei que isso faria sentido pra outras pessoas, não. Me lembro que foi a Sara que me levou no primeiro sarau da minha vida, sarau IPPR ( Intervenção Poética Popular Revolucionária ). Esse sarau e os seus criadores – o Daniel Cristiano, o Diego Arthur, e Bruna Tharine – foram minha referências políticas durante essa minha fase da vida. Acabou que viram que tinha outros talentos com a fala e acabei me tornando representante do Sarau, meio que um “Porta Voz” hoje isso é passado, mas um passado que guardo no meu coração com muito carinho.

            H: Você mal começou sua carreira musical e já ganhou alguns prêmios. Quais foram essas premiações e o que representaram na sua trajetória?

            G: Olha, isso me surpreendeu um pouco. essa parada de prêmio. O primeiro prêmio que recebi foi o do (Cena VDA) e esse é o que mais representa minha trajetória, até mais que o Prêmio Cinecom que recebi a alguns dias. Eu estava em uma fase muito difícil quando fui chamado para disputar esse prêmio, não faz muito tempo, não. Eu estava passando muita dificuldade financeira sabe? Quase sem ter o que comer, e junto com o título de músico VDA o Prêmio contava com uma boa quantia em Dinheiro. Minha carreira começou porque faltou arroz em casa, hahaha. Por isso esse prêmio vale mais do que o de agora que ganhei – e os futuros.

            H: Você vem tocando suas próprias músicas nos bares da região do Vale-do-Aço há alguns anos. Sabemos que esses lugares são mais “propícios” para músicos que reinterpretam canções conhecidas, o “famoso” cover. Como você conseguiu conquistar esse espaço de música autoral nesses lugares?

            G: Eu acho isso uma história engraçada, mas meio que descobri que pessoas entram em transe quando recitamos poesias em lugares em que eles não estão acostumados a ouvir esse tipo de coisa, hahaha, e isso foi o primeiro sinal que me fez perceber a carência que o Vale tinha de retomar essas ideias. No começo meio que tive que infiltrar na ideia toda, comecei a frequentar em apresentações de colegas e amigos que já faziam suas apresentações de cover, eu ia em todos, meio que virei tiete de todos hahaha. Eles me devam algumas oportunidades, e ali, somente com uma poesia, eu roubava a atenção do público, logo cantava uma de minhas canções. Até que um dia convenci um contratante de que aquilo também poderia ser lucrativo. E aqui estamos.

            H: Qual a importância, em nível individual e coletivo, você percebe em focar no trabalho autoral?

            G: O que seria mais importante para um artista do que ver suas criações sendo aceitas pelo público? O autoral pode se dizer que é o “Plano Infalível” isso é o objetivo final de quase todos os músicos, de quase todos os cantores, compositores. Juntos, meu amigo, estamos só aguçando um propósito que todos estavam correndo, por insegurança ou muitas vezes por falta de oportunidade. Em um nível individual, é apenas o objetivo de cada um, em um nível coletivo, é cada um ajudando cada um a chegar nesse objetivo. Somos a retomada da oportunidade. E é irônico dizer pra que um dia nossas canções, quem sabe, se tornem o cover do futuro, hahaha.

            H: O que é o “Sarau Autoral”?

            G: É o movimento que pretende ser o sonho perfeito de um compositor. Imaginemos que você é um compositor e vai em um show, e quando menos esperar os Artistas que estão no palco te convidam a mostrar suas canções, não seria uma sanção de adrenalina e conquista? Pois é, isso é o Sarau Autoral.

            H: Recentemente você se juntou a mim e outros dois artistas ímpares (sem falsa exaltação), que são o Matheis Teles “El Mago” e David VII para formar o “Bando d’Poeta”. Como eu sempre te digo, Raul Seixas cantava que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. O que é sonho e o que é realidade nesse projeto?

            G: Grande Raul… Meu amigo, eu me uni as pessoas que carregam o mesmo sonho que eu, entende? Por enquanto quase tudo é sonho, mas se nos matermos nesse ritmo que estamos, qualquer coisa pode ser realidade nesse projeto. O autoral é a realidade, é tudo que somos.

            H: Muito agradecido, meu amigo. Não desperdiço mais essa palavra e você sabe disso. Quais as suas considerações finais? Termine com um verso – se vira, você não é o Poeta?

            G: Essa entrevista foi uma das mais maneiras que tive. haha, sempre admirei sua pessoa Hugo, agora estamos juntos também nessa caminhada. Eu acredito fielmente nesse projeto e nessa ideia. Poesia? Eu vou finalizar então deixando o trecho de um verso que fiz a na Bahia, que diz assim:

É que esses bares se tornaram oásis

e toda dor é caminhar no deserto

matando a sede com cerveja e frases…
Talvez crescer seja ser mais direto.


            Somente isso, hahah. Obrigado meu amigo.

GANJALISE-SE!

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SHIVA e o conto da criação da Maconha https://revistaganja.com/historia/shiva-e-o-conto-da-criacao-da-maconha/ Sat, 26 Nov 2022 13:47:59 +0000 https://revistaganja.com/?p=4211 Texto por: Hugo Drosera Por vários séculos, os Vedas (sagrados textos da Índia Antiga) foram passados de geração em geração de Mestre para discípulo através da memorização e repetição oral dos textos, passando a ser registrados em texto entre os anos 1500 a.C. e 500 a.C. Nos mesmos Vedas é possível ler que a Cannabis […]

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Texto por: Hugo Drosera

Imagem por Marcus costa

Por vários séculos, os Vedas (sagrados textos da Índia Antiga) foram passados de geração em geração de Mestre para discípulo através da memorização e repetição oral dos textos, passando a ser registrados em texto entre os anos 1500 a.C. e 500 a.C. Nos mesmos Vedas é possível ler que a Cannabis é uma das 5 plantas sagradas, portanto “naturalmente” inclusa na tradição medicinal e religiosa na Índia desde há pelo menos 3 mil anos.
Uma lenda associada ao texto védico Samudra Manthan conta que os “Devas” e os “Rakshas” – que eram seres antagônicos entre si – tiveram de se unir para agitar o “oceano de leite cósmico” para obter a Amrita (o elixir da vida eterna) mas acabaram gerando também o HalaHala, o veneno capaz de matar tanto devas tanto rakshas. Para protegê-los, Shiva bebe todo o veneno e sua esposa, Parvarti, o segura pela garganta para que ele não engula o veneno e lhe serve o Bhang. O Bhang é uma bebida preparada com leite, cozinhando-se folhas e flores de cannabis maceradas, furtas e especiarias.
Com o chacoalhar do tal oceano cósmico, a Amrita “chove” no mundo e onde as gotas pingaram nascera a cannabis na Terra. Hoje em dia, a cada 12 anos celebra-se o Kumbh Mela, um festival que dura 55 dias e acontece nas 4 cidades onde teria chovido o Amrita após o chacoalhar do oceano cósmico. A Festa do Pote (kumbh) acontece em Prayagraj, Haridwar, Nasik e Ujjain e reúne dezenas de milhões de pessoas, e pode-se testemunhar muitas formas de uso da cannabis pelas ruas, em especial pelos devotos de Shiva na forma do Bhang. Além do uso religioso ligado principalmente à ordens espirituais Shivaístas, é possível encontrar o Bhang em estabelecimentos credenciados pelo governo sendo consumido por trabalhadores após o expediente. Pois, sim, a ganja não é totalmente legalizada na Índia, por incrível que pareça. Ainda assim, todos os anos acontecem celebrações religiosas em reverência a Shiva pela Índia. Em Fevereiro acontece o MahaShivaratri em que milhares de Hindus da Índia e do Nepal encontram-se em Kathmandu próximos ao Templo de Pashupatinath e fazem abertamente o uso da cannabis sagrada na forma do Bhang.
Na Ayurveda – a ciência da Vida, ensinada pelo próprio Shiva de acordo com a tradição hindu – a cannabis é usada para tratamentos intestinais, doenças do trato respiratório, cólicas e como ansiolítico. No entanto, também há evidências em fontes literárias posteriores de que a cannabis foi usada para tratar outras doenças, incluindo epilepsia e asma. O Bhang também é mencionado nos textos do médico Sushruta, um professor de Ayurveda de 2500 anos atrás, que a recomenda como um remédio para catarro, diarreia, bem como uma cura para a febre biliar.
São muitas as lendas que relacionam Shiva à cannanbis. Outra delas também sugere que a divindade, após brigar com a família, foi dormir em sua plantação de ganja. Quando acordou sentiu fome, se alimentou das folhas da cannabis e sentiu-se rejuvenescido. Desde então ele passou a considerar este o seu alimento preferido.
Como é possível perceber, sempre se soube das qualidades medicinais da ganja desde que o mundo é mundo! Ao menos os Hindus já sabem disso há tempos e, se faz bem aos deuses, imagina o que ela pode fazer por nós! Procure se informar sobre os diversos usos da cannabis, sob a forma de alimento e sobre os vários medicamentos naturais que podem ser obtidos, afinal, o conhecimento é sagrado. “Om Namah Shivaya!

GANJALISE-SE!

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31 de outubro, DIA DA POESIA. https://revistaganja.com/bate-papo/31-de-outubro-dia-da-poesia/ Fri, 11 Nov 2022 15:08:37 +0000 https://revistaganja.com/?p=4193 Texto por: Hugo Drosera O Dia é das Bruxas, mas é também dia do Bruxo! O grande bruxo da poesia brasileira, Carlos Drummond de Andrade, nasceu no dia de halloween há exatos 120 anos, e desde Junho de 2005 a data foi oficializada como Dia Nacional da Poesia. Entretanto, além do dia 31 de Outubro, […]

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Texto por: Hugo Drosera

JAYDSON SOUZA – POESIA DECLAMA

O Dia é das Bruxas, mas é também dia do Bruxo! O grande bruxo da poesia brasileira, Carlos Drummond de Andrade, nasceu no dia de halloween há exatos 120 anos, e desde Junho de 2005 a data foi oficializada como Dia Nacional da Poesia. Entretanto, além do dia 31 de Outubro, a data também é celebrada no dia 14 de Março em referência ao poeta Castro Alves (nascido em 1847), mas o projeto de lei que oficializaria a data foi arquivado. Mas tudo bem, a gente comemora nos dois! Afinal, em Março – no dia 21 – também se comemora o dia Mundial da Poesia, data reconhecida pela UNESCO em 1999. 

É muita coisa? Senta que lá vem mais! Dia 20 de Outubro foi o Dia do Poeta, e agora temos um Poeta na redação! Este que vos escreve – o @hugodrosera – é Poeta e se fez assim graças a um texto “cannabista”. Com a licença do leitor para que eu fale em primeira pessoa a partir de agora, em 2013 fui convidado por Jaydson Souza – cinegrafista, artista audiovisual, ativista, documentarista, produtor cultural, ativista, fundador e produtor da “A Rua Declama” e da Lizard Filmes – foi apresentar o projeto audiovisual “A Rua Declama” em um sarau do Coletivo Conteúdo Avulso, que na época eu também fazia parte e estávamos organizando os primeiros saraus de rua do Vale do Aço, lá fui convidado por Jaydson Souza para fazer um vídeo pelo projeto, o primeiro com um poeta que não fosse o Petx MC – fundador da “A Rua Declama” e primeiro apresentador do “Sarau A Rua Declama”. 

Poucos dias depois, gravamos o vídeo “A Rua Declama – Tôco-Chaminé”, que na época repercutiu bastante na “comunidade cannabica”, e mais do que uma crítica antiproibicionista.

Essa poesia também conversa com o cenário local de uma cidade industrial do interior, cheia de medos e hipocrisias. Mas aqui também tem a Revista Ganja, e logo na primeira conversa surgiu a ideia de eu publicar sobre arte, cultura, um pouco de história e também minhas poesias. A primeira poesia não podia ser outra trouxe pra nós a transcrição literal do texto e o vídeo original que já está prestes a completar uma década, e uma conversa com Jaydson Souza sobre esse trecho da história da Poesia em Minas Gerais.

Segue o texto:

Tôco-Chaminé  

Lá do alto eu observei

A cidade toda pita

Qual fumo eu não sei

Só sei que ninguém hesita

Cada um toma um rumo

Mas cada um tem um fumo

Que relaxa ou que excita

Uns fumam nicotina

Uns outros, gasolina

O maior toco é o da Usina

Esse ninguém evita

Chega a toda palma

De quem por aqui mora

A fumaça vem com calma

Você tá pitando um agora

E nem tinha percebido

Que o ar todo poluído

Veio lá daquela tora

Que a usina bola todo dia

Vai de moradia a moradia

Fazendo a sua apologia

Por este vale afora

A fábrica do que eu pito

É toda sustentável

Fabrica um produto

que é biodegradável

Que faz roupa e alimenta

De tudo se inventa

Tem até um combustível

Que funciona nos motores

Mas existem uns senhores

Que pagaram uns doutores

Por uma lei incompreensível

A usina fuma o suor

E é assim que ela ganha

Nenhum fumo é pior

Mas esse ninguém estranha

Diferente do bagulho

que o povo sente orgulho

Quando os homi apanha

Não adianta nenhuma regra

Qualquer uma ela quebra

Enquanto uns fumam pedra

A usina fuma uma montanha

Segue o link do vídeo original:

Também conversamos com o Jaydson Souza, idealizador da “A Rua Declama”.

 segue a conversa:

Primeiramente, “Salve, Zói”! Já sei que o Jayson também atente por Naga, mas todo mundo chama de Zói! Considerando que muitos Poetas usam pseudônimos, fale um pouco dos destes apelidos pra gente?

Naga é um apelido que ganhei na adolecência quando estudava na Escola Estadual Antônio Silva, que fica no centro de Timóteo. Recebi o apelido devido ao tamanho do meu nariz, na época diziam que era grande. E “Zói ou Zóia” é aquela expressão que serve pra todo mundo, houve um tempo que alguns amigos usavam esses termos para se referir uns aos outros, e isso se mantém até hoje.

Você não é Poeta, ou pelo menos não era antes da Rua Declama. Estou certo? Como surgiu a ideia do projeto? Como foi seu contato com o Petx MC? 

Inverno
Primavera
Poeta é
quem se considera.
(Paulo Leminski)

Invoco o supremo poder da poesia para explicar a segunda questão. Acredito que a poesia ou o ser poeta, vai além de escrever poemas (isso eu ainda não faço mesmo) e é na minha opinião um modo de ver/viver/analisar/contemplar a vida de uma forma poética.

Sempre me interessei pela poesia, nos artistas de rua, nos textos autorais da galera da minha quebrada, eu sempre curti esse lance de ficar na praça trocando ideias e conhecendo as pessoas. Eu já conhecia o Petx dos rolês de Rap mas foi em um sarau organizado pelo Coletivo Conteúdo Avulso numa praça em Fabriciano que ele me apresentou a ideia de fazer alguns vídeos dele declamando nas ruas da cidade, e o nome do projeto “A Rua Declama”. Eu topei já de cara, produzimos os primeiros vídeos, a galera curtiu muito e chamou a atenção de outros poetas que nos procuraram querendo participar do projeto, e a partir daí fomos agregando cada vez mais pessoas.

Como você se tornou cinegrafista profissional e nos fale da Lizard Filmes! Além dos vídeos da Rua Declama, tem mais algum trabalho da Lizard que podemos acompanhar? (Aqui quero registrar meu agradecimento pessoal pelo minidoc do Sarau de Bar em Bar)

Eu comecei a trabalhar em produtoras de vídeo muito jovem, eu tinha uns 14 anos, segurei luz, enrolei muito cabo, mas a câmera sempre me fascinou. De lá pra cá trabalhei em diversas produtoras e atuei no mercado audiovisual do Vale do Aço. Porém a grande revolução na minha carreira aconteceu devido a uma mudança tecnológica, que aconteceu com o lançamento das câmeras DSLRs, que são câmeras fotográficas profissionais que com essa mudança passaram a gravar vídeos. Esse equipamento, em relação aos equipamentos profissionais de filmagem da época, eram bem mais baratos. Foi aí que tive a oportunidade de comprar minha primeira câmera. Dai criei a “Lizard Fimes”, produtora de filmes independentes. Um lugar onde eu poderia experimentar e criar parcerias.

A Rua Declama foi sem dúvidas o movimento poético mais importante do Vale do Aço, intercambiou artistas de várias partes do país, serviu de inspiração para vários saraus e slams, além de ter sido o primeiro slam do interior do Brasil! Como surgiu a ideia do Sarau A Rua Declama? Quais as suas impressões sobre a influência da Rua Declama no Vale do Aço?

Quando os poetas começaram a nos procurar querendo participar da série de vídeos, a gente resolveu fazer o sarau pra conhecer melhor as poesias e os poetas. Além disso, a cena de coletivos que ocupavam espaços públicos estava crescendo cada vez mais nas capitais do país e vimos a oportunidade de participar desse movimento. 

Eu acho que A Rua Declama mexeu com as possibilidades do Vale do Aço de fazer cultura, mostramos que era possível fazer muito com pouco, que o simples fato de as pessoas pararem para ouvir o outro era muito impactante, isso transforma a vida de quem fala e de quem ouve.

Como você enxerga a cena de competição de Poesia Falada? Para você, isso mudou alguma coisa na dinâmica dos saraus “não competitivos”? Slam também é sarau? 

Sobre os Slam’s eu acho importante pra cena, pois o Slam tem o circuito, estadual, nacional e mundial e isso cria a possibilidade de fazer o intercâmbio, onde você conhece poetas de outros lugares e outras culturas. E há quem diga que competir é comum ao agir humano, e realmente tem gente que gosta da adrenalina da competição, eu acho essas pessoas muito corajosas. 

Slam não é sarau, o fato de ser uma competição com limite de tempo, regras e tudo mais que está envolvido ali naquele jogo muda completamente o andamento do evento. Sarau é mais solto, menos rigoroso, as regras meio que não existem, o tempo é lento, passar devagar. Eu prefiro Sarau mas reconheço a importância do Slam por causa dessa competitividade que acredito que tem quem goste e principalmente por causa do circuito, que é o mais foda.

No período de um ano, A Rua Declama lançou um documentário e um livro. Conta como foi a experiência e como está sendo a repercussão. Tem algum projeto futuro nesse sentido?

Lançar o Documentário e o Livro foi um mergulho na nossa história. Revisitar os arquivos antigos, ver as pessoas nas fotos, pessoas que estavam desde os primeiros saraus na praça do Fórum foi muito legal. Quantas pessoas incríveis passaram pelo nosso movimento. Foi emocionante.

Sobre projetos futuros, pretendemos voltar a ocupar as ruas e praças da cidade, para distribuir nosso livro e exibir o documentário. 2023 será um ano muito especial.

A Rua Declama é tão importante para o Vale do Aço que, mesmo sendo um movimento originalmente de Timóteo, esteve presente em diversas edições do Salão do Livro de Ipatinga. Qual a importância da Rua Declama estar inserida em um evento como este?

Quando somos convidados para participar de eventos como o Salão do Livro, eu fico muito orgulhoso pois é um reconhecimento de um trabalho que fazemos com muito carinho e responsabilidade. Eu sempre defendi que nosso movimento deveria ocupar o máximo de lugares possíveis. Onde chamar a gente vai.

Além do audiovisual, sarau, slam, livro, Salão do Livro, a Rua Declama também pode ser considerado um projeto social que faz intervenções artísticas e culturais em escolas, centros de detenção, universidades… como é realizar esse trabalho e quais outros ambientes além destes a Rua Declama chegou? Quais foram as experiências mais marcantes?

Nessa caminhada ocupamos faculdades, escolas e teatros mas as experiências mais marcantes foram sem dúvidas quando realizamos oficinas de poesia e saraus dentro do presídio de segurança máxima de Ipaba e com os adolescentes infratores que estão sob a tutela do estado em Ipatinga. Acredito que a poesia é um instrumento de transformação.

Suas considerações finais, “Zói”  ! 
A poesia transformou minha vida, conheci as pessoas mais incríveis que se pode imaginar, aprendi muito sobre afeto, sobre revolução e sobre resiliência. Sou muito grato a poesia por isso.

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4 de novembro, DIA DA FAVELA https://revistaganja.com/historia/4-de-novembro-dia-da-favela/ Sat, 05 Nov 2022 00:10:02 +0000 https://revistaganja.com/?p=4180 Texto por: Hugo Drosera Foi lá em Canudos, cidade rebatizada de Monte Santo por Antônio Conselheiro, líder religioso e social, e seus seguidores, que constituíram uma comunidade autônoma e independente que abrigava e organizava, principalmente, os famintos da seca, retirantes, ex-militares e até ex-cangaceiros, chamando atenção das autoridades e desafiar as investidas da Nova República, […]

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Texto por: Hugo Drosera

ENTREVISTA COM LEANDRO RIBEIRO – FUNDADOR DA SEDA DE FAVELA

Foi lá em Canudos, cidade rebatizada de Monte Santo por Antônio Conselheiro, líder religioso e social, e seus seguidores, que constituíram uma comunidade autônoma e independente que abrigava e organizava, principalmente, os famintos da seca, retirantes, ex-militares e até ex-cangaceiros, chamando atenção das autoridades e desafiar as investidas da Nova República, proclamada em 1889, sendo portanto considerados “inimigos públicos”. Lá em Canudos, como está registrado por testemunhas oculares dos conflitos, havia o “morro da favela”, por causa de uma árvore que nascia no local, sendo assim chamada de “Faviela”. Mas como o nome chegou a outros lugares e se espalhou pelo Brasil nas comunidades empobrecidas neste país continental tão rico e desigual?

Em 1897 houve o regresso dos soldados vitoriosos da Guerra de Canudos, se é que é possível chamar de vitória o massacre de cerca de 25 mil camponeses no sertão Baiano, cometido por esses mesmos soldados liderados por um general de guerra e 300 toneladas de armas e munições, além de um canhão de 3 metros apelidado “matadeira”. A estes soldados sobreviventes foi oferecido um soldo que não foi pago pelo governo e assim se insurgiu uma revolta no Rio de Janeiro, que desde 1871 passou a abrigar os “filhos” da Lei do Ventre-Livre que chegaram à cidade buscando oportunidades de trabalho e que com a assinatura definitiva da Lei Áurea em 1888, recebeu uma quantidade ainda maior de ex-escravizados. 

Ex-combatentes de canudos e ex-escravizados formaram uma massa empobrecida que passou a ocupar o antigo Morro da Providência, e apelidaram aquela comunidade ao pé do morro de “Favela”, numa trágica lembrança da injustiça que acometeu Canudos e seus habitantes.

Sabemos que a História é por muitas vezes triste e trágica, mas nem só de tragédias é feita a vida. Tão importante quanto a luta, é poder ressignificar essas lembranças e transformá-las em combustível para que se inflamem novas possibilidades para essa massa trabalhadora e criativa que vive pelas favelas do Brasil. Pensando nisso, a Revista Ganja conversou com Leandro Ribeiro, proprietário da Seda de Favela, uma marca de produtos destinados à tabacarias, que vem se alastrando pelo mercado nacional e estampa com sua vida e sua história a representatividade que a Favela merece! 

E aí, será que a Favela venceu?

 Deixa que o Leandro nos responde.

Primeiramente, salve, Leandro! Damos graças pela disposição em conversar com a Revista Ganja! A Seda de Favela é uma empresa que, já no nome, mostra um foco na representatividade da cultura de favela. Conta pra gente sobre o que significa sua empresa pra você:

A minha empresa é um resumo do que eu sou! Pra começar, não somos uma empresa só para vender tabaco ou vender seda… a nossa empresa tem um propósito! A Seda de Favela é uma empresa que enxergou a necessidade do Brasil de incluir, representar e evidenciar as favelas usando arte e cultura em homenagem às mesmas. Tipo assim, eu fiquei quatro anos preso, no fundo do poço… meu amigo até veio aqui ontem, reclamando da vida, sabe o que eu fiz com ele? Falei com ele “vem cá, vem cá, vamo ali na cozinha”… abri a geladeira, peguei um copo de água, bebi e falei “irmão, cê tem noção do que é eu agradecer por isso hoje?! Por que até ontem eu não podia nem fazer isso! Cê sabe o que é a dor do ser humano de ter sua liberdade tirada, não poder abrir a geladeira e pegar um como de água, irmão? Pior ainda, por consequência dos seus próprios atos, tá ligado? Que geraram todo um sofrimento pra mim mesmo”. Na mesma hora ele… (fazendo um sinal de quem se impactou com a mensagem). É pra isso que eu sirvo, entendeu? Eu estava usando minha inteligência para o lado errado, simplesmente… só que eu creio num Deus que tem olhos e está vendo tudo, e eu creio que vamos prestar contas com ele um dia. 

Já ficou claro também que para você não é tabu falar em Deus e sobre a sua situação de ex-detento. Como é a relação entre essas coisas para você? 

Era pra eu estar revoltado, só que eu sou uma agulha no palheiro. Se você fizer uma pesquisa com ex-detentos por aí, eles não tem uma perspectiva de vida, tá todo mundo revoltado, tá todo mundo doente da cabeça, com depressão, ansiedade entendeu? Foi lá dentro que eu tive Deus comunicando comigo mesmo, entendi que Ele permitiu isso. Então eu vou exaltar o nome dele.  Fiquei quatro anos preso, durante dois anos eu não tinha perspectiva nenhuma! Eu tava preso irmão! O que eu ia fazer? Estava morto, pior que Lázaro! Tava morto e enterrado, com o Espírito abatido. Mas a Palavra diz que quando a nossa carne está fraca, nosso espírito está forte.

E essa ideia surgiu lá na detenção ou depois que você saiu? Como foi esse começo?

Um dia eu estava fumando um lá dentro, olhei pra caixinha da seda – não vou falar o nome agora dos amigos que tinham (risos) – e falei “vou personalizar essa p*”! Na mesma hora eu já visualizei e falei pra mim mesmo “vou tirar uma foto panorâmica de cada favela, num lugar maneiro e vou botar nas caixinhas de seda… SEDA DE FAVELA”! Ali eu tive a resposta de Deus, Deus falando assim “fica tranquilo por que tudo que você perdeu não era seu. Não era nada teu por que você conseguiu na tua vida errada. Quando você sair vai montar sua empresa e vai replantar esse caminho maldição que você faz sabendo a Palavra”. Foi isso que eu senti! Eu já tenho isso no meu coração. Eu tento não mencionar o nome de Deus mas eu não consigo, é como se tivesse um fogo serrando meus ossos. 

Imagino que deva ter sido um turbilhão de pensamentos. Como você organizou isso na sua cabeça?

Fiquei cocriando aquela ideia dois anos. Desesperado! Imagina a ansiedade… comecei a treinar, me levantar e não deixei me vencer. Quem manda em mim é o meu espírito e minha alma tava abatida, mas “tá tudo bem”, mas David pregava pra própria alma: “por que te abates? Por que está triste?” Por que da alma vem o sentimento, eu dei uma ordem pra minha alma não se abater por causa daquilo tudo ali que eu tava vivendo la dentro. Foi um tratamento de choque. Se tu não tiver um propósito dentro de você, você não consegue não.

A gente sabe que as leis de execuções penais não são cumpridas no sentido de ressocializar a pessoa em situação de detenção e que são muitos os caminhos que podem levar ao crime. Você tira muita força da fé que cultiva, mas essa energia vem de outros lugares também?

Vem disso tudo aí também, dessa revolta, de querer uma vida melhor, nós somos um país rico, a fazenda do mundo! Então eu tinha toda essa revolta mas não tava expressando ela da forma certa, estava expressando ela com mais ódio ainda. Eu pensava “o que é isso?! A Bíblia diz que eu sou Rei-Sacerdote da Terra, que eu sou herdeiro com Cristo”. Como é que a gente vai viver passando dificuldade? Vendo o filho querendo um picolé e não poder dar… Eu estudei muito, li a Bíblia mais de cinco vezes, fui pra igreja evangélica e tive um encontro com Deus. O ser humano tá vivendo com muita falta de amor. Tá todo mundo carente de prosperidade, o Brasil não precisava nem cobrar imposto!

É notável a criatividade empregada nos produtos. Como você se vê inserido nesse mercado de sedas nos próximos anos?

Eu sou a nova Coca-Cola do mercado de sedas (risos)! Meus concorrentes estão todos milionários, só que eu sou a “Seda de Favela”, eu chego em lugares que eles nem imaginam. Sem querer parecer soberbo, mas eu não sou só uma “marca de seda”. Nenhuma caixinha vai ser igual a outra! Tem caixinha da favela da Rocinha, da Chumbada de São Gonçalo onde eu sou cria… daí tem a mensagem motivadora “riqueza é nossa mente”, “a favela venceu”, “sou da chumbada, nasci pra subir”, e ainda tem escrito sobre as imagens “caixinha não é piteira”, e por que? Por que eu sou um artista, faço a parada com o maior amor pra gente poder colecionar, pra pessoa não rasgar. São imagens reais, entendeu? A seda é de cânhamo, a qualidade é incontestável! O cânhamo é uma matéria muito rica, até o exército americano usa coturno de cânhamo.

Quanto tempo tem a empresa e quais as estratégias para alcançar tantos lugares? Tem algum passo importante que você queira dar?

A empresa fez um ano e quatro meses. Inicialmente a gente tinha uma visão de distribuir “kit” pra um monte de artistas pra divulgar a marca mas agora reorganizamos a empresa. Eu não sou nenhum louco, eu vim do improvável e estamos crescendo nesse conceito! Temos projetos até de preservativo. E o bagulho é só crescimento! Vou participar esse mês do “Rio Inovation”, terei um stand lá, vão ter vários investidores lá. Eu falo pra Deus que se tiver que vir um investidor, que seja uma pessoa que já sabe do entendimento da vida, que não tem olho grande na vida dos outros, pra me ajudar a aumentar a minha empresa. Seria ótimo! Isso aqui tudo veio da minha mente, entende? Quem faz o design de tudo sou eu! Tudo que você vê de design da Seda de Favela quem faz sou eu. Só isso já é um trampo enorme, se tivesse um investimento em um maquinário, por exemplo, eu iria avançar de uma forma… 

São muitos corres nas suas costas! Você não fica sobrecarregado? Essa pilha não descarrega? Espero que você já esteja tendo um bom retorno com tudo isso…

Se eu não fizer, ninguém vai fazer não, cara! É 24h aqui por que eu tenho que fazer um post, fazer um estoque… a gente tá galgando um caminho que não é conto de fadas, isso é trabalho e só planejo ganhar dinheiro mesmo daqui uns anos, ai eu terei o pé não chão pra tirar o meu dinheiro. Enquanto é isso é Seda de Favela pra tudo! Não tem como tirar pra mim por que tem que reinvestir, tem serviços terceirizados, daí tem guerra no mundo e não chega produto, então é tudo uma logística em que eu não sou contador, não sou administrador, eu não sou p* nenhuma! Eu só tenho a ambição de vencer. Minha inteligência tava sendo usada para o mal, não vou fazer pelo bem? Tenho dois filhos, minha mulher tá grávida, virá outro nenenzinho… tenho que fazer isso mesmo, e eu vou fazer por que eu amo, enquanto eu estiver vivo vai ser Seda de Favela.

E a Favela? Como ela tem recebido a seda que leva esse nome?

Qualquer favela que eu entro eu sou bem recebido. Mês passado roubaram o carro do meu pai e me ligaram falando que iriam devolver o carro por causa da minha marca, só pediram um “kit” (risos). E eu respondi “como é que eu não vou te dar, tá doido? Isso daí é pra vocês mesmo”. Tem noção do que é isso? Eu criar um conceito e ver a favela sendo representada. Todo dia eu recebo mensagem de motivação, alguém reconhece a Seda de Favela, alguém começa a seguir.

Passar por tudo isso depois de sair “de lá” deve ser mesmo engrandecedor. Fale um pouco disso, por favor!

O último dia que eu saí daquele lugar eram 6h da manhã, estava amanhecendo, eu vi uma fileira de formiga com um monte de folhinha nas costas daí Deus falou “tá vendo as formigas? Salomão observava as formigas”. Salomão observava as formigas e Deus falou que ele podia pedir tudo e ele pediu sabedoria. Ele observava as formigas por que elas trabalham em comunhão pra sobreviverem no inverno. Eu vim com esse propósito. Não é só por dinheiro. Hoje eu tenho nojo de ideia de crime. Eu falo para os meus amigos que cantam que “se tu soubesse da consequência que isso tem pra tua alma você ia ter vergonha de cantar música de crime”. Eu quero que cantem motivação. O crime é uma forma covarde de se entregar pro sistema. 

Pelo visto, você não pretende se entregar, desde já desejamos força e garra nessa missão. Mas com todas essas incertezas que o país vive, você acha que é uma boa hora para investir num mercado de um produto que ainda não foi totalmente descriminalizado?

Eu vou vencer, irmão! Eu já prometi que se eu juntar 1 milhão de reais, vou distribuir 100 mil pra quem precisa. Eu espero que o Brasil dê oportunidade pra gente crescer dessa forma. O mercado canábico tá crescendo, não pára de abrir head shop e tabacaria. A gente trabalha com material sustentável e eu quero chegar num ponto que a gente tenha brownie da Seda de Favela, óleo, todo tipo de material que a gente puder abranger eu vou querer por que esse crescimento não pára, é notável. É que nem vender papel higiênico, as pessoas vão continuar comprando. Não tem pra onde correr e agora é o nosso momento. É o momento do Brasil da gente ser reconhecido e eu quero viver do meu sonho, é o que eu amo. E, vou te falar, o mundo seria bem melhor! As pessoas estão com uma visão distorcida do mundo. A ideia é sempre passar uma visão, na seda, na postagem, de uma perspectiva melhor do mundo. A planta tem tudo e seguem criminalizando a planta. É uma covardia, e vem mais crise. Essa política econômica que a gente tem já é fracassada. Eu não sou contra nem a favor de um ou de outro. Só sei que é um absurdo! Não tenho que esperar, um país rico, cheio de petróleo, cheio de tudo, a fazenda do mundo. Era pra gente viver num país rico! A gente não tinha que ficar correndo atrás de dinheiro, era pro dinheiro vir até nós. Mas enquanto isso, esse mercado é gigantesco, é muito remédio, é muito benefício, e isso é legalizando uma coisa só, hein. Imagina tanto que isso move no resto do país.

Como você enxerga a crise política no nosso país? Você tem alguma posição definida quanto a isso? Quais suas expectativas para o cenário que se apresenta?

Eu não to critico o Lula por que toda autoridade é instituída por Deus mesmo sabendo que ele já vacilou. Mas beleza, ele tá lá agora, ele tem que apaziguar o povo, fazer a economia girar. Se não for ele é o Bolsonaro, e aí? Essa questão é muito maior. A gente nem usa quase nada do nosso cérebro, a gente tem o entendimento limitado. Se fulaninho fumou uma maconha e não vai pro céu, se o outro jejuou, Deus não tem uma prancheta na mão, não… eu também não entendo essa briga que Ele colocou a gente, mas eu sei que ele ama a gente. Existem milhões de interrogações na minha mente, mas só sei que ele nos criou. O mesmo amigo pra quem eu mostrei o copo de água (começo da entrevista) falou comigo que o inferno é aqui. Eu questionei e ele até me cortou, dizendo que sabia o que eu tinha vivido e eu falei “não, irmão, inferno não é aqui, não é dentro da cadeia, sabe por que? Você vê um filho nascer, não pode ser o inferno. Você ver a felicidade do teu filho, a alegria de uma criança, não pode ser o inferno, você beber uma água gelada, comer uma comida gostosa, não pode ser o inferno!” A gente tá fadado a errar mas o arrependimento é muito importante.  Era pra eu estar em depressão, o que o governo faz com a gente… mas enquanto há vida há esperança.

Sobre o sistema carcerário, o que você pensa das leis e das condições que são dadas ao condenado? Você acha que a lei anda fazendo justiça?

Tenho amigos que estavam lá dentro que hoje vem trocar ideia comigo, outros que estão no caminho ruim de novo mas vem trocar uma ideia comigo. O propósito é esse, na leveza. Por que, imagina, eu fiquei quatro anos, então conheci muita gente. Imagina aquelas pessoas que dividiram comigo lá dentro, comendo pão puro. Quero que elas vejam que se eu consegui, elas podem conseguir também. Sobre a lei, eu penso que se a gente fez errado tem que pagar. Se a gente não paga aqui, paga em outro lugar. As vezes as pessoas enganam a justiça, acham que vai passar batido na vida mas não vai. Tudo que você me perguntar vai ter uma base em Deus por que é nisso que eu creio. Sobre lei, é a lei que a gente tiver que cumprir. Mas que seja uma pena justa. Não vai dar pena máxima pra quem roubou uma batata frita no mercado. E sobre a maconha, por mim já pode descriminalizar e soltar tudo. O cara ficar preso por um bagulho que é remédio… eu fico triste, a raiz é muito profunda. Eu sei que minha pena foi justa, que foi justo o que eu passei, eu tive que pagar. Você acha que eu reclamo? Glória a Deus, por que era pra eu estar morto! De ter a oportunidade de fazer o que eu amo, mas que a lei seja justa para cada um. Mas quem vai fazer essa lei justa? Quem vai reformular essas leis? Tem muitas coisas… esse é um assunto muito complexo.

Sei que esse é um assunto sensível, porém a gente sabe que as leis de execuções penais não são cumpridas regularmente e que o sistema carcerário cria pouca ou nenhuma condição de ressocialização. Qual a sua opinião sobre a organização dos presídios nesse sentido?

Isso aqui é o Brasil, era para o presídio estar igual casa de madame. Isso não ia isentar o preso de pagar o castigo dele. Isso que eles não entendem. Não adianta deixar o presídio como tá, desumano, isso só piora tudo. A raiz taí também. Você pode estar numa casa de luxo, se você ficar preso 24h você ficará maluco. Você tá preso! Não vai ter luxo ali que vai ter fazer ficar perto da tua filha, da tua mãe, o castigo já está acontecendo. Mas eles pioram a cadeia, já fiquei no isolamento, tinha gente que dormia em pé, a comida vir com caracol, com pedra. Nem todo mundo vai ter a mente do “Leandro Ribeiro”. Aí vem outra raiz: a pobreza e a desigualdade, e isso vem antes da cadeia. Tem um monte de gente dentro da favela que não tem mesmo a oportunidade, não tem! As vezes nenhuma mesmo! “Ah, vai vender doce na rua”, mas não dá pra sustentar dois ou três filhos. “Ah, mas por que foi ter dois, três filhos”, eu vou julgar?! A princípio tem que legalizar a maconha mesmo, parar de prender gente por causa de prensado… imagina se pudesse plantar em casa? Que isso, pelo amor de Deus! Vai arriscar plantar uma planta gringa, pega dois, três anos de cadeia. Os caras lá fora fumando só iguaria e a gente aqui fumando prensado e virando bandido. 

Alguma consideração final sobre isso? Deixa uma mensagem pra gente!

A gente vai trazer pra cá o mundo agora, vai mudar! Não precisa nem ir buscar, vai chegar até o Brasil. Papo reto!

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CANNABIS QUEER E COMUNIDADE LGBTQIA+ https://revistaganja.com/atualidades/cannabis-queer-e-comunidade-lgbtqia/ Thu, 23 Jun 2022 01:49:13 +0000 https://revistaganja.com/?p=4108 Texto por: Marcel Lyra | Arte por: El Planteo COMUNIDADE LGBTQIA+ E SEU PARALELO COM A GANJA! Por muitas gerações o governo criminalizou a ganja, e o uso deliberado da planta em muitas revoltas políticas, como a contracultura, não é uma coincidência. Mesmo que a legalização pareça prestes a varrer o mundo nos próximos anos, a cannabis é […]

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Texto por: Marcel Lyra | Arte por: El Planteo

COMUNIDADE LGBTQIA+ E SEU PARALELO COM A GANJA!

Por muitas gerações o governo criminalizou a ganja, e o uso deliberado da planta em muitas revoltas políticas, como a contracultura, não é uma coincidência. Mesmo que a legalização pareça prestes a varrer o mundo nos próximos anos, a cannabis é inseparável das questões de justiça socioeconômica. 

Tanto a comunidade LGBTQIA+ quanto a cannabis têm mais do que sua história de resistência em comum. As duas comunidades foram injustamente demonizadas na opinião pública, onde a proibição da ganja e a política anti-LGBTQIA+ foram usadas como imperativos morais em vez de escolhas políticas intencionais.

Uma das conexões mais direta é o uso da cannabis como tratamento para a AIDS, que afetou desproporcionalmente a comunidade LGBTQIA+ entre os anos 80 e 90. Dada a relutância dos governos ao redor do mundo em reconhecer a existência e o efeito do vírus em uma comunidade que considerava dispensável, os pacientes com AIDS recorreram adivinha ao que? À Cannabis! Para alívio e um bem-estar físico e mental, tanto da doença em si quanto dos medicamentos prescritos, que muitas vezes eram igualmente prejudiciais, além do estresse mental de conviver com uma sociedade que te massacrava (e ainda massacra) por apenas ser.

Dos Estados Unidos para o mundo, os dois movimentos ganharam terreno na mesma época e defenderam populações marginalizadas, resistindo e dando a cara a tapa para mudar radicalmente o que a sociedade percebia como desviante e delinquente. Sem o trabalho intensivo e perigoso de ativistas Queer, em uma época com uma violência mais brutal ainda sobre esses corpos, a maconha não seria tão acessível hoje, dúvida?

Se você não conhece Dennis Peron e se considera ativista da cannabis então volte muitas casas. Amplamente creditado como o “Pai da Maconha Medicinal” na Califórnia, ele foi um ativista que trabalhou incansavelmente pelo acesso à cannabis para uso medicinal, começando com a comunidade LGBTQIA+ de São Francisco no auge da epidemia da AIDS. Seu parceiro, Jonathan West, morreu em decorrência da AIDS em 1990 mas antes ele pode perceber como a cannabis ajudou o companheiro, ele observou que a ganja aliviava a náusea, a depressão, a ansiedade e a dor nos últimos momentos de vida de West. Em 1994, Peron co-fundou, junto com Brownie Mary, uma ativista que assava brownies e distribuía para pacientes com AIDS, o Cannabis Buyers Club de São Francisco, o primeiro dispensário público de cannabis medicinal nos EUA enfrentado tudo e a todos em nome da planta.

Peron deixou um legado enorme, ainda contribui para o cenário atual da cannabis com seu trabalho onde foi co-autor do Compassionate Use Act de 1996, assim a Califórnia permitia que indivíduos possuissem quantidades limitadas de cannabis quando prescrito por um profissional de saúde licenciado.

Outra análise importante é que a ganja continua sendo uma questão LGBTQIA+ superior ao mundo heterossexual, dúvida também? É fato que pessoas Queer defendem e usam cannabis em taxas mais altas do que pessoas heterossexuais, uma pesquisa realizada em 2019 através da revista estadunidense Drug and Alcohol Dependence mostrou que que pacientes homossexuais e bissexuais consomem mais maconha do que pacientes heterossexuais. 

Analisando as respostas de 126.463 adultos americanos em todo o país, os pesquisadores descobriram que 26% das mulheres lésbicas disseram ter consumido mais cannabis, enquanto 40% das mulheres bissexuais disseram que o fizeram. Apenas 10% das mulheres heterossexuais relataram consumir maconha no mesmo período. Enquanto isso, 29% dos homens gays relataram usar cannabis no ano da pesquisa, em comparação com 30% dos homens bissexuais e apenas 17% dos homens heterossexuais. Você pode pensar “os heterossexuais mentiram”, isso mostraria de novo como devemos aprender com a comunidade queer a não ter medo de sermos quem somos, apenas pessoas comuns que usam cannabis. O fato é que coexistindo com taxas mais altas de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático como resultado da opressão, o consumo mais alto faz todo sentido e se faz necessário.

Ainda mais necessário é falarmos de pessoas trans e sua relação com a ganja, o papel crítico da cannabis medicinal na saúde e no autocuidado de indivíduos transgêneros não é tão falado quanto deveria. Outra grande falha na comunidade canábica é a falta de estudos confiáveis ​​sobre o poder medicinal da cannabis para a comunidade trans, estudos que são praticamente inexistentes. 

Somente nos Estados Unidos, 40% dos indivíduos trans tentaram suicídio. Um relatório chamado “Transexualidades e Saúde Pública no Brasil”, do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT e do Departamento de Antropologia e Arqueologia, revelou que 85,7% dos homens trans já pensaram em suicídio ou tentaram cometer o ato. Simplesmente não se pode negar tratamento a um grupo altamente estigmatizado que tem uma prevalência de 42 a 46% de tentativas de suicídio, comparado a 4,6% da população em geral. 

A cannabis pode ajudar de diversas formas pessoas trans, de formas específicas e de forma ampla como ansiedade, insônia, disforia de gênero, depressão, ganho de peso relacionado à reposição hormonal e dor pós-operatória. A ganja deu visibilidade e voz para muitas pessoas e comunidades, chamou atenção para muitas doenças, agora passou da hora de reconhecermos que a cannabis é importante para a comunidade gay, não só como medicina mas como causa, e devemos isso para pessoas que lutaram pelo acesso democrático da planta. 

A tristeza maior é que a liderança LGBTQIA+ na indústria da cannabis continua faltando. À medida que a cannabis se torna cada vez mais reconhecida como um empreendimento comercial legítimo, as corporações dominadas por homens cisgêneros brancos e ricos empurram ativamente indivíduos Queer e pessoas negras para fora do empreendedorismo, um insulto às comunidades que abriram o caminho para a acessibilidade da cannabis. Estamos mesmo construindo outra indústria?

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Na procura do que sou, esbarro em vários sintomas https://revistaganja.com/opiniao/na-procura-do-que-sou-esbarro-em-varios-sintomas/ Sun, 12 Jun 2022 23:47:33 +0000 https://revistaganja.com/?p=4097 Texto por: Andrea Terra | Arte por: Josie Norton Nos desconectamos do nosso próprio ser As distrações são muitas, os assédios também. Somos bombardeados pela ideia do consumo, da escolha pelo prático, da comida pré-preparada, do macarrão instantâneo, das bolachas de lanche, do uso do álcool, cigarro e refrigerante. Não pode faltar o açúcar pra adoçar a […]

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Texto por: Andrea Terra | Arte por: Josie Norton

Nos desconectamos do nosso próprio ser

As distrações são muitas, os assédios também. Somos bombardeados pela ideia do consumo, da escolha pelo prático, da comida pré-preparada, do macarrão instantâneo, das bolachas de lanche, do uso do álcool, cigarro e refrigerante.

Não pode faltar o açúcar pra adoçar a vida e um Leitinho pra gente ficar “forte.” Paramos de pensar e focamos no trabalho, nos boletos pra pagar e na vida pra levar.

Nos desconectamos com a natureza, com a nossa flora intestinal, pelo excesso do uso de produtos alimentícios.

Nos desconectamos da nossa alta estima do gozo e do prazer.

Nos desconectamos do nosso próprio ser.

Em um pais desigual, racista, proibicionista, sem educação, sem cultura, sem incentivo a pesquisa, sem polo industrial, sem governo, com cidades lotadas de farmácias; uma em cada esquina!!!

Tem algo de muito errado…

Em um cenário assim; separar os sintoma do que realmente somos, demanda vontade verdadeira.

É necessário regular a disfunção, para depois achar quem somos!!!

Então atenção: na alimentação no sono reparador na hidratação, na respiração, na pratica de exercício físico, na meditação nos Fitoterápicos, na Aromaterapia e em outras prática integrativas que tratam o indivíduo como um ser único.

Ter a autonomia da nossa saúde e saber fazer uma escolha consciente, faz parte da procura do nosso ser. Que está soterrado de ansiedade, depressão, pânico, medo, raiva, frustração, enxaqueca, fadiga, dermatite, urticaria, renite, dor, sintomas, esses ligados a falta de equilíbrio no nosso corpo, resultado da comunicação das nossas células no nosso terreno biológico. Vale lembrar que com a comunicação certa, o organismo entra em equilíbrio.

Ninguém vai cuidar da sua saúde de verdade a não ser você!

Pensar no nosso corpo integrado ao universo, fazer dele a casa de bactérias boas, pensamentos positivos, cultivar prazeres diários, se manter em ambiente saudável, ser grato, evitar preocupações, estresse e alimentos inflamatórios. Vai nos afastar de doenças e seus sintomas que tentam invadir o nosso ser e nos limitar a um diagnóstico.

A cannabis, um fitoterápico, entra nessa história como a salvadora de um povo doente e cansado dos alopáticos, que vai descobrir ao longo do tempo a sua conectividade com natureza e o com o seu sistema endocanabinoide.

Sistema este que é o maestro de todos os outros sistemas. Que é distribuído por todos os tecidos do corpo e modula diversas e complexas vias de sinalização. Por isso a adição de fitocanabinoides, torna-se uma importante ferramenta terapêutica para diversas patologias.

Com um diferencial muito grande dos alopáticos e dos medicamentos feitos pela indústria da doença que nos envolvem em uma quantidade gigantescas de sintomas advindos dos efeitos colaterais, que não ajudam a trazer à tona, quem realmente somos.

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