BANDO D’POETA – SARAU AUTORAL

Texto por: Hugo Drosera

Imagem por Hugo Drossera

Recentemente a Revista Ganja incorporou a Poesia Marginal de vez em seu contexto com a chegada de Hugo Drosera como colaborador. Fizemos live, postamos e compartilhamos vídeos e trouxemos para o nosso público expressões diversas da nossa cultura popular contemporânea, em especial a arte da Poesia Falada que chegou com o pé na porta na última década com Saraus, Slams, Feiras Literárias e intervenções em vários formatos.

             Como já cantou o Planet Hemp, “não falo só de maconha e tenho muito para dizer”! Fazemos dessa frase um estandarte e hoje trouxemos a arte do “Bando d´Poeta”. O grupo que se formou no final de 2022 – e já tem agenda cheia até Fevereiro do próximo ano. Por enquanto – vem conquistando espaço para a música autoral nos bares da região do Vale do Aço/MG.

A Revista Ganja é apoiadora desta iniciativa e entrou nesse corre, O “Sarau Autoral”, que acontece dia 16 de Dezembro na cidade de Ipatinga-MG, com o apoio de empresas locai, e vem trazer um pouco do resultado da união desses musicos/artistas, em uma apresentação autoral, seguida de um Sarau, com a participação de artistas regionais.

E para completar, trouxemos uma entrevista muito especial com Gabriel Poeta, vocalista e idealizador do projeto Bando d’Poeta:

            Hugo Drosera: Salve, Gabriel! Primeiramente, é uma honra como teu amigo e admirador conduzir essa breve entrevista contigo. Para além da honra, é uma alegria poder também tocar com um artista tão sensível e disposto. Conhecendo isso mais de perto agora, começo te perguntando – bem poeticamente – como é ser entregue a Poesia, fazer disso profissão e por que a decisão de “poetizar” através da música?

            Gabriel Poeta: Primeiramente, a honra é minha, meu amigo. Um prazer ter uma mente brilhante perto! Bom, eu sinceramente, Hugo, acho que a poesia para mim é um Puta castigo, haha… Eu sempre respondo isso pras pessoas quando me perguntam, eu sempre digo a mesma coisa; Eu deixo a poesia fazer o que ela quiser comigo, sou mais escravo dela do que ela de mim, mas depois que tive uma pequena influência no meio Kardecista eu digo; Em relação a poesia eu apenas psicografo. Eu fui quase obrigado a “poetizar” por aí, haha… Falei pra poesia: “Já que vai me usar assim, me alimente pelo menos!” – Aí ela me dá uns trocados as vezes.

            H: Você acabou de voltar da Bahia. Conta pra nós como foram estes últimos anos, em quais projetos você esteve envolvido; e o que você pode nos contar dos planos para o seus futuro próximo?

            G: Minha temporada na Bahia foi muito importante. Tive que entender de uma vez por todas que não sabia muita coisa de quase nada, e que minha maior ferramenta seria a poesia mesmo. Na Bahia a poesia me deu de comer, me levou aonde eu tinha que estar. Lá eu criei o “Sarau Musical”, me juntei ao músico bahiano Júlio Regare, e a produtora cultural Camila Escal, eles foram minha força. Em Arraial d’Ajuda não acontecia nenhum movimento poético mais. Apenas retornei a reviver a poesia naquele lugar. Hoje lá existem 4 fortes saraus. E meu futuro se resume em continuar a deixar essas marcas por onde passar

            H: Uma pergunta bem simples: como você compõe?

            G: Eu não componho, eu pesco, hahaha. Eu fico pescando pensamentos e colocando no papel, depois eu organizo tudo, até parecer ou fazer sentido.

            H: Uma pergunta bem complicada: por que você compõe?

            G: Pra não ter tempo de pensar porque eu existo!

            H: Sei que sua raiz poética vem de antes da cena dos saraus de rua desabrochar no Vale do Aço. Mas você floresceu apresentando saraus, não foi? Conte-nos sobre isso.

            G: Foi sim. Eu escrevo a quase 15 anos da minha vida e nunca imaginei que isso faria sentido pra outras pessoas, não. Me lembro que foi a Sara que me levou no primeiro sarau da minha vida, sarau IPPR ( Intervenção Poética Popular Revolucionária ). Esse sarau e os seus criadores – o Daniel Cristiano, o Diego Arthur, e Bruna Tharine – foram minha referências políticas durante essa minha fase da vida. Acabou que viram que tinha outros talentos com a fala e acabei me tornando representante do Sarau, meio que um “Porta Voz” hoje isso é passado, mas um passado que guardo no meu coração com muito carinho.

            H: Você mal começou sua carreira musical e já ganhou alguns prêmios. Quais foram essas premiações e o que representaram na sua trajetória?

            G: Olha, isso me surpreendeu um pouco. essa parada de prêmio. O primeiro prêmio que recebi foi o do (Cena VDA) e esse é o que mais representa minha trajetória, até mais que o Prêmio Cinecom que recebi a alguns dias. Eu estava em uma fase muito difícil quando fui chamado para disputar esse prêmio, não faz muito tempo, não. Eu estava passando muita dificuldade financeira sabe? Quase sem ter o que comer, e junto com o título de músico VDA o Prêmio contava com uma boa quantia em Dinheiro. Minha carreira começou porque faltou arroz em casa, hahaha. Por isso esse prêmio vale mais do que o de agora que ganhei – e os futuros.

            H: Você vem tocando suas próprias músicas nos bares da região do Vale-do-Aço há alguns anos. Sabemos que esses lugares são mais “propícios” para músicos que reinterpretam canções conhecidas, o “famoso” cover. Como você conseguiu conquistar esse espaço de música autoral nesses lugares?

            G: Eu acho isso uma história engraçada, mas meio que descobri que pessoas entram em transe quando recitamos poesias em lugares em que eles não estão acostumados a ouvir esse tipo de coisa, hahaha, e isso foi o primeiro sinal que me fez perceber a carência que o Vale tinha de retomar essas ideias. No começo meio que tive que infiltrar na ideia toda, comecei a frequentar em apresentações de colegas e amigos que já faziam suas apresentações de cover, eu ia em todos, meio que virei tiete de todos hahaha. Eles me devam algumas oportunidades, e ali, somente com uma poesia, eu roubava a atenção do público, logo cantava uma de minhas canções. Até que um dia convenci um contratante de que aquilo também poderia ser lucrativo. E aqui estamos.

            H: Qual a importância, em nível individual e coletivo, você percebe em focar no trabalho autoral?

            G: O que seria mais importante para um artista do que ver suas criações sendo aceitas pelo público? O autoral pode se dizer que é o “Plano Infalível” isso é o objetivo final de quase todos os músicos, de quase todos os cantores, compositores. Juntos, meu amigo, estamos só aguçando um propósito que todos estavam correndo, por insegurança ou muitas vezes por falta de oportunidade. Em um nível individual, é apenas o objetivo de cada um, em um nível coletivo, é cada um ajudando cada um a chegar nesse objetivo. Somos a retomada da oportunidade. E é irônico dizer pra que um dia nossas canções, quem sabe, se tornem o cover do futuro, hahaha.

            H: O que é o “Sarau Autoral”?

            G: É o movimento que pretende ser o sonho perfeito de um compositor. Imaginemos que você é um compositor e vai em um show, e quando menos esperar os Artistas que estão no palco te convidam a mostrar suas canções, não seria uma sanção de adrenalina e conquista? Pois é, isso é o Sarau Autoral.

            H: Recentemente você se juntou a mim e outros dois artistas ímpares (sem falsa exaltação), que são o Matheis Teles “El Mago” e David VII para formar o “Bando d’Poeta”. Como eu sempre te digo, Raul Seixas cantava que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. O que é sonho e o que é realidade nesse projeto?

            G: Grande Raul… Meu amigo, eu me uni as pessoas que carregam o mesmo sonho que eu, entende? Por enquanto quase tudo é sonho, mas se nos matermos nesse ritmo que estamos, qualquer coisa pode ser realidade nesse projeto. O autoral é a realidade, é tudo que somos.

            H: Muito agradecido, meu amigo. Não desperdiço mais essa palavra e você sabe disso. Quais as suas considerações finais? Termine com um verso – se vira, você não é o Poeta?

            G: Essa entrevista foi uma das mais maneiras que tive. haha, sempre admirei sua pessoa Hugo, agora estamos juntos também nessa caminhada. Eu acredito fielmente nesse projeto e nessa ideia. Poesia? Eu vou finalizar então deixando o trecho de um verso que fiz a na Bahia, que diz assim:

É que esses bares se tornaram oásis

e toda dor é caminhar no deserto

matando a sede com cerveja e frases…
Talvez crescer seja ser mais direto.


            Somente isso, hahah. Obrigado meu amigo.

GANJALISE-SE!