O COMEDOR DE HAXIXE

Texto por: Marcel Lyra | Arte por: João Dório

Cobaias? O pesquisador Fitz Hugh Ludlow testava tudo em si mesmo 

Se imagine em 1855, com uma curiosidade do tamanho do mundo e um grandíssimo interesse em ter alterações da consciência. O que você faz ? Aos 20 anos, o pesquisador e aventureiro nova-iorquino Fitz Hugh Ludlow (1836-1870) decidiu estudar e descrever, com o maior rigor possível, os efeitos de extrato de haxixe, reunindo suas experiências no livro The Hasheesh Eater (“O Comedor de Haxixe”), publicado em 1857. 

Durante seus anos de faculdade, Ludlow decidiu experimentar todas as drogas estranhas que um amigo vendia nalgum boticário. Começou inalando clorofórmio, passou pelos opiáceos e chegou à maconha. Então, quando o remédio à base de cannabis Tilden’s Extract (Extrato de Tilden) foi lançado, Ludlow obviamente o tomou. Ele consumia quantidades tão grandes do extrato de cannabis que, em cada sessão, suas alucinações eram comparadas às experienciadas por viciados em ópio.  

Ao longo do livro, Ludlow narra com exatidão sua jornada psicodélica que levou a extensas reflexões sobre religião, filosofia, medicina e cultura. No livro, ele descreve seus estados alterados de consciência enquanto usava doses cavalares de haxixe: “Pela humilde quantia de seis centavos eu poderia comprar uma passagem de excursão por toda a terra; navios e dromedários, tendas e hospícios estavam todos contidos em uma caixa de Extrato de Tilden.”  

O autor descreve, também, o usuário de ganja como alguém que está alcançando “a capacidade da alma para um ser mais amplo, uma visão mais profunda, visões mais grandiosas de beleza, verdade e bem, do que ela agora ganha através das fendas de sua cela”.  

Muitas de suas escritas foram comparadas a fantasias e criações de mitos para seus contemporâneos. Hoje, fica óbvio o avanço do conhecimento do estado psicodélico que ele alcançou. Um trecho muito interessante sobre uma alucinação: “E agora, com o tempo, o espaço também se expandiu… Toda a atmosfera parecia dúctil e girava infinitamente em grandes espaços que me cercavam por todos os lados.” 

Mas não vamos romantizar uma experiência tão intensa como a de Ludlow, pois fica registrado em seu livro como ele sofreu ao adquirir o vício em alucinações. Seus registros também servem como um diário de um ex-viciado. Uma das suas passagens ele diz aos usuários de haxixe : “Ei! Passe por aqui; eu tentei esse caminho; finalmente leva a desertos venenosos”.

Publicado pela primeira vez em 1857, The Hasheesh Eater foi o primeiro exemplar americano completo de literatura sobre drogas. No entanto, apesar do escândalo que o cercava, o livro rapidamente se tornou um enorme sucesso. 

O reconhecimento foi tanto que o livro despertou grande interesse pelo haxixe, levando à produção de doces de haxixe e à abertura de clubes de haxixe em todas as grandes cidades norte-americanas. Desde então, tornou-se um clássico cult, primeiro entre os escritores Beat nas décadas de 1950 e 1960, e mais tarde com os hippies em São Francisco, na década de 1970.

Fontes : 

https://en.m.wikipedia.org/wiki/The_Hasheesh_Eater#:~:text=The%20Hasheesh%20Eater%20(1857)%20is,was%20using%20a%20cannabis%20extract.

https://super.abril.com.br/ciencia/a-cobaia-sou-eu/

Museu Hashmuseum 

Livro :  The Hasheesh Eater