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Texto por: Hugo Drosera

Imagem por Hugo Drossera

Recentemente a Revista Ganja incorporou a Poesia Marginal de vez em seu contexto com a chegada de Hugo Drosera como colaborador. Fizemos live, postamos e compartilhamos vídeos e trouxemos para o nosso público expressões diversas da nossa cultura popular contemporânea, em especial a arte da Poesia Falada que chegou com o pé na porta na última década com Saraus, Slams, Feiras Literárias e intervenções em vários formatos.

             Como já cantou o Planet Hemp, “não falo só de maconha e tenho muito para dizer”! Fazemos dessa frase um estandarte e hoje trouxemos a arte do “Bando d´Poeta”. O grupo que se formou no final de 2022 – e já tem agenda cheia até Fevereiro do próximo ano. Por enquanto – vem conquistando espaço para a música autoral nos bares da região do Vale do Aço/MG.

A Revista Ganja é apoiadora desta iniciativa e entrou nesse corre, O “Sarau Autoral”, que acontece dia 16 de Dezembro na cidade de Ipatinga-MG, com o apoio de empresas locai, e vem trazer um pouco do resultado da união desses musicos/artistas, em uma apresentação autoral, seguida de um Sarau, com a participação de artistas regionais.

E para completar, trouxemos uma entrevista muito especial com Gabriel Poeta, vocalista e idealizador do projeto Bando d’Poeta:

            Hugo Drosera: Salve, Gabriel! Primeiramente, é uma honra como teu amigo e admirador conduzir essa breve entrevista contigo. Para além da honra, é uma alegria poder também tocar com um artista tão sensível e disposto. Conhecendo isso mais de perto agora, começo te perguntando – bem poeticamente – como é ser entregue a Poesia, fazer disso profissão e por que a decisão de “poetizar” através da música?

            Gabriel Poeta: Primeiramente, a honra é minha, meu amigo. Um prazer ter uma mente brilhante perto! Bom, eu sinceramente, Hugo, acho que a poesia para mim é um Puta castigo, haha… Eu sempre respondo isso pras pessoas quando me perguntam, eu sempre digo a mesma coisa; Eu deixo a poesia fazer o que ela quiser comigo, sou mais escravo dela do que ela de mim, mas depois que tive uma pequena influência no meio Kardecista eu digo; Em relação a poesia eu apenas psicografo. Eu fui quase obrigado a “poetizar” por aí, haha… Falei pra poesia: “Já que vai me usar assim, me alimente pelo menos!” – Aí ela me dá uns trocados as vezes.

            H: Você acabou de voltar da Bahia. Conta pra nós como foram estes últimos anos, em quais projetos você esteve envolvido; e o que você pode nos contar dos planos para o seus futuro próximo?

            G: Minha temporada na Bahia foi muito importante. Tive que entender de uma vez por todas que não sabia muita coisa de quase nada, e que minha maior ferramenta seria a poesia mesmo. Na Bahia a poesia me deu de comer, me levou aonde eu tinha que estar. Lá eu criei o “Sarau Musical”, me juntei ao músico bahiano Júlio Regare, e a produtora cultural Camila Escal, eles foram minha força. Em Arraial d’Ajuda não acontecia nenhum movimento poético mais. Apenas retornei a reviver a poesia naquele lugar. Hoje lá existem 4 fortes saraus. E meu futuro se resume em continuar a deixar essas marcas por onde passar

            H: Uma pergunta bem simples: como você compõe?

            G: Eu não componho, eu pesco, hahaha. Eu fico pescando pensamentos e colocando no papel, depois eu organizo tudo, até parecer ou fazer sentido.

            H: Uma pergunta bem complicada: por que você compõe?

            G: Pra não ter tempo de pensar porque eu existo!

            H: Sei que sua raiz poética vem de antes da cena dos saraus de rua desabrochar no Vale do Aço. Mas você floresceu apresentando saraus, não foi? Conte-nos sobre isso.

            G: Foi sim. Eu escrevo a quase 15 anos da minha vida e nunca imaginei que isso faria sentido pra outras pessoas, não. Me lembro que foi a Sara que me levou no primeiro sarau da minha vida, sarau IPPR ( Intervenção Poética Popular Revolucionária ). Esse sarau e os seus criadores – o Daniel Cristiano, o Diego Arthur, e Bruna Tharine – foram minha referências políticas durante essa minha fase da vida. Acabou que viram que tinha outros talentos com a fala e acabei me tornando representante do Sarau, meio que um “Porta Voz” hoje isso é passado, mas um passado que guardo no meu coração com muito carinho.

            H: Você mal começou sua carreira musical e já ganhou alguns prêmios. Quais foram essas premiações e o que representaram na sua trajetória?

            G: Olha, isso me surpreendeu um pouco. essa parada de prêmio. O primeiro prêmio que recebi foi o do (Cena VDA) e esse é o que mais representa minha trajetória, até mais que o Prêmio Cinecom que recebi a alguns dias. Eu estava em uma fase muito difícil quando fui chamado para disputar esse prêmio, não faz muito tempo, não. Eu estava passando muita dificuldade financeira sabe? Quase sem ter o que comer, e junto com o título de músico VDA o Prêmio contava com uma boa quantia em Dinheiro. Minha carreira começou porque faltou arroz em casa, hahaha. Por isso esse prêmio vale mais do que o de agora que ganhei – e os futuros.

            H: Você vem tocando suas próprias músicas nos bares da região do Vale-do-Aço há alguns anos. Sabemos que esses lugares são mais “propícios” para músicos que reinterpretam canções conhecidas, o “famoso” cover. Como você conseguiu conquistar esse espaço de música autoral nesses lugares?

            G: Eu acho isso uma história engraçada, mas meio que descobri que pessoas entram em transe quando recitamos poesias em lugares em que eles não estão acostumados a ouvir esse tipo de coisa, hahaha, e isso foi o primeiro sinal que me fez perceber a carência que o Vale tinha de retomar essas ideias. No começo meio que tive que infiltrar na ideia toda, comecei a frequentar em apresentações de colegas e amigos que já faziam suas apresentações de cover, eu ia em todos, meio que virei tiete de todos hahaha. Eles me devam algumas oportunidades, e ali, somente com uma poesia, eu roubava a atenção do público, logo cantava uma de minhas canções. Até que um dia convenci um contratante de que aquilo também poderia ser lucrativo. E aqui estamos.

            H: Qual a importância, em nível individual e coletivo, você percebe em focar no trabalho autoral?

            G: O que seria mais importante para um artista do que ver suas criações sendo aceitas pelo público? O autoral pode se dizer que é o “Plano Infalível” isso é o objetivo final de quase todos os músicos, de quase todos os cantores, compositores. Juntos, meu amigo, estamos só aguçando um propósito que todos estavam correndo, por insegurança ou muitas vezes por falta de oportunidade. Em um nível individual, é apenas o objetivo de cada um, em um nível coletivo, é cada um ajudando cada um a chegar nesse objetivo. Somos a retomada da oportunidade. E é irônico dizer pra que um dia nossas canções, quem sabe, se tornem o cover do futuro, hahaha.

            H: O que é o “Sarau Autoral”?

            G: É o movimento que pretende ser o sonho perfeito de um compositor. Imaginemos que você é um compositor e vai em um show, e quando menos esperar os Artistas que estão no palco te convidam a mostrar suas canções, não seria uma sanção de adrenalina e conquista? Pois é, isso é o Sarau Autoral.

            H: Recentemente você se juntou a mim e outros dois artistas ímpares (sem falsa exaltação), que são o Matheis Teles “El Mago” e David VII para formar o “Bando d’Poeta”. Como eu sempre te digo, Raul Seixas cantava que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. O que é sonho e o que é realidade nesse projeto?

            G: Grande Raul… Meu amigo, eu me uni as pessoas que carregam o mesmo sonho que eu, entende? Por enquanto quase tudo é sonho, mas se nos matermos nesse ritmo que estamos, qualquer coisa pode ser realidade nesse projeto. O autoral é a realidade, é tudo que somos.

            H: Muito agradecido, meu amigo. Não desperdiço mais essa palavra e você sabe disso. Quais as suas considerações finais? Termine com um verso – se vira, você não é o Poeta?

            G: Essa entrevista foi uma das mais maneiras que tive. haha, sempre admirei sua pessoa Hugo, agora estamos juntos também nessa caminhada. Eu acredito fielmente nesse projeto e nessa ideia. Poesia? Eu vou finalizar então deixando o trecho de um verso que fiz a na Bahia, que diz assim:

É que esses bares se tornaram oásis

e toda dor é caminhar no deserto

matando a sede com cerveja e frases…
Talvez crescer seja ser mais direto.


            Somente isso, hahah. Obrigado meu amigo.

GANJALISE-SE!

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31 de outubro, DIA DA POESIA. https://revistaganja.com/bate-papo/31-de-outubro-dia-da-poesia/ Fri, 11 Nov 2022 15:08:37 +0000 https://revistaganja.com/?p=4193 Texto por: Hugo Drosera O Dia é das Bruxas, mas é também dia do Bruxo! O grande bruxo da poesia brasileira, Carlos Drummond de Andrade, nasceu no dia de halloween há exatos 120 anos, e desde Junho de 2005 a data foi oficializada como Dia Nacional da Poesia. Entretanto, além do dia 31 de Outubro, […]

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Texto por: Hugo Drosera

JAYDSON SOUZA – POESIA DECLAMA

O Dia é das Bruxas, mas é também dia do Bruxo! O grande bruxo da poesia brasileira, Carlos Drummond de Andrade, nasceu no dia de halloween há exatos 120 anos, e desde Junho de 2005 a data foi oficializada como Dia Nacional da Poesia. Entretanto, além do dia 31 de Outubro, a data também é celebrada no dia 14 de Março em referência ao poeta Castro Alves (nascido em 1847), mas o projeto de lei que oficializaria a data foi arquivado. Mas tudo bem, a gente comemora nos dois! Afinal, em Março – no dia 21 – também se comemora o dia Mundial da Poesia, data reconhecida pela UNESCO em 1999. 

É muita coisa? Senta que lá vem mais! Dia 20 de Outubro foi o Dia do Poeta, e agora temos um Poeta na redação! Este que vos escreve – o @hugodrosera – é Poeta e se fez assim graças a um texto “cannabista”. Com a licença do leitor para que eu fale em primeira pessoa a partir de agora, em 2013 fui convidado por Jaydson Souza – cinegrafista, artista audiovisual, ativista, documentarista, produtor cultural, ativista, fundador e produtor da “A Rua Declama” e da Lizard Filmes – foi apresentar o projeto audiovisual “A Rua Declama” em um sarau do Coletivo Conteúdo Avulso, que na época eu também fazia parte e estávamos organizando os primeiros saraus de rua do Vale do Aço, lá fui convidado por Jaydson Souza para fazer um vídeo pelo projeto, o primeiro com um poeta que não fosse o Petx MC – fundador da “A Rua Declama” e primeiro apresentador do “Sarau A Rua Declama”. 

Poucos dias depois, gravamos o vídeo “A Rua Declama – Tôco-Chaminé”, que na época repercutiu bastante na “comunidade cannabica”, e mais do que uma crítica antiproibicionista.

Essa poesia também conversa com o cenário local de uma cidade industrial do interior, cheia de medos e hipocrisias. Mas aqui também tem a Revista Ganja, e logo na primeira conversa surgiu a ideia de eu publicar sobre arte, cultura, um pouco de história e também minhas poesias. A primeira poesia não podia ser outra trouxe pra nós a transcrição literal do texto e o vídeo original que já está prestes a completar uma década, e uma conversa com Jaydson Souza sobre esse trecho da história da Poesia em Minas Gerais.

Segue o texto:

Tôco-Chaminé  

Lá do alto eu observei

A cidade toda pita

Qual fumo eu não sei

Só sei que ninguém hesita

Cada um toma um rumo

Mas cada um tem um fumo

Que relaxa ou que excita

Uns fumam nicotina

Uns outros, gasolina

O maior toco é o da Usina

Esse ninguém evita

Chega a toda palma

De quem por aqui mora

A fumaça vem com calma

Você tá pitando um agora

E nem tinha percebido

Que o ar todo poluído

Veio lá daquela tora

Que a usina bola todo dia

Vai de moradia a moradia

Fazendo a sua apologia

Por este vale afora

A fábrica do que eu pito

É toda sustentável

Fabrica um produto

que é biodegradável

Que faz roupa e alimenta

De tudo se inventa

Tem até um combustível

Que funciona nos motores

Mas existem uns senhores

Que pagaram uns doutores

Por uma lei incompreensível

A usina fuma o suor

E é assim que ela ganha

Nenhum fumo é pior

Mas esse ninguém estranha

Diferente do bagulho

que o povo sente orgulho

Quando os homi apanha

Não adianta nenhuma regra

Qualquer uma ela quebra

Enquanto uns fumam pedra

A usina fuma uma montanha

Segue o link do vídeo original:

Também conversamos com o Jaydson Souza, idealizador da “A Rua Declama”.

 segue a conversa:

Primeiramente, “Salve, Zói”! Já sei que o Jayson também atente por Naga, mas todo mundo chama de Zói! Considerando que muitos Poetas usam pseudônimos, fale um pouco dos destes apelidos pra gente?

Naga é um apelido que ganhei na adolecência quando estudava na Escola Estadual Antônio Silva, que fica no centro de Timóteo. Recebi o apelido devido ao tamanho do meu nariz, na época diziam que era grande. E “Zói ou Zóia” é aquela expressão que serve pra todo mundo, houve um tempo que alguns amigos usavam esses termos para se referir uns aos outros, e isso se mantém até hoje.

Você não é Poeta, ou pelo menos não era antes da Rua Declama. Estou certo? Como surgiu a ideia do projeto? Como foi seu contato com o Petx MC? 

Inverno
Primavera
Poeta é
quem se considera.
(Paulo Leminski)

Invoco o supremo poder da poesia para explicar a segunda questão. Acredito que a poesia ou o ser poeta, vai além de escrever poemas (isso eu ainda não faço mesmo) e é na minha opinião um modo de ver/viver/analisar/contemplar a vida de uma forma poética.

Sempre me interessei pela poesia, nos artistas de rua, nos textos autorais da galera da minha quebrada, eu sempre curti esse lance de ficar na praça trocando ideias e conhecendo as pessoas. Eu já conhecia o Petx dos rolês de Rap mas foi em um sarau organizado pelo Coletivo Conteúdo Avulso numa praça em Fabriciano que ele me apresentou a ideia de fazer alguns vídeos dele declamando nas ruas da cidade, e o nome do projeto “A Rua Declama”. Eu topei já de cara, produzimos os primeiros vídeos, a galera curtiu muito e chamou a atenção de outros poetas que nos procuraram querendo participar do projeto, e a partir daí fomos agregando cada vez mais pessoas.

Como você se tornou cinegrafista profissional e nos fale da Lizard Filmes! Além dos vídeos da Rua Declama, tem mais algum trabalho da Lizard que podemos acompanhar? (Aqui quero registrar meu agradecimento pessoal pelo minidoc do Sarau de Bar em Bar)

Eu comecei a trabalhar em produtoras de vídeo muito jovem, eu tinha uns 14 anos, segurei luz, enrolei muito cabo, mas a câmera sempre me fascinou. De lá pra cá trabalhei em diversas produtoras e atuei no mercado audiovisual do Vale do Aço. Porém a grande revolução na minha carreira aconteceu devido a uma mudança tecnológica, que aconteceu com o lançamento das câmeras DSLRs, que são câmeras fotográficas profissionais que com essa mudança passaram a gravar vídeos. Esse equipamento, em relação aos equipamentos profissionais de filmagem da época, eram bem mais baratos. Foi aí que tive a oportunidade de comprar minha primeira câmera. Dai criei a “Lizard Fimes”, produtora de filmes independentes. Um lugar onde eu poderia experimentar e criar parcerias.

A Rua Declama foi sem dúvidas o movimento poético mais importante do Vale do Aço, intercambiou artistas de várias partes do país, serviu de inspiração para vários saraus e slams, além de ter sido o primeiro slam do interior do Brasil! Como surgiu a ideia do Sarau A Rua Declama? Quais as suas impressões sobre a influência da Rua Declama no Vale do Aço?

Quando os poetas começaram a nos procurar querendo participar da série de vídeos, a gente resolveu fazer o sarau pra conhecer melhor as poesias e os poetas. Além disso, a cena de coletivos que ocupavam espaços públicos estava crescendo cada vez mais nas capitais do país e vimos a oportunidade de participar desse movimento. 

Eu acho que A Rua Declama mexeu com as possibilidades do Vale do Aço de fazer cultura, mostramos que era possível fazer muito com pouco, que o simples fato de as pessoas pararem para ouvir o outro era muito impactante, isso transforma a vida de quem fala e de quem ouve.

Como você enxerga a cena de competição de Poesia Falada? Para você, isso mudou alguma coisa na dinâmica dos saraus “não competitivos”? Slam também é sarau? 

Sobre os Slam’s eu acho importante pra cena, pois o Slam tem o circuito, estadual, nacional e mundial e isso cria a possibilidade de fazer o intercâmbio, onde você conhece poetas de outros lugares e outras culturas. E há quem diga que competir é comum ao agir humano, e realmente tem gente que gosta da adrenalina da competição, eu acho essas pessoas muito corajosas. 

Slam não é sarau, o fato de ser uma competição com limite de tempo, regras e tudo mais que está envolvido ali naquele jogo muda completamente o andamento do evento. Sarau é mais solto, menos rigoroso, as regras meio que não existem, o tempo é lento, passar devagar. Eu prefiro Sarau mas reconheço a importância do Slam por causa dessa competitividade que acredito que tem quem goste e principalmente por causa do circuito, que é o mais foda.

No período de um ano, A Rua Declama lançou um documentário e um livro. Conta como foi a experiência e como está sendo a repercussão. Tem algum projeto futuro nesse sentido?

Lançar o Documentário e o Livro foi um mergulho na nossa história. Revisitar os arquivos antigos, ver as pessoas nas fotos, pessoas que estavam desde os primeiros saraus na praça do Fórum foi muito legal. Quantas pessoas incríveis passaram pelo nosso movimento. Foi emocionante.

Sobre projetos futuros, pretendemos voltar a ocupar as ruas e praças da cidade, para distribuir nosso livro e exibir o documentário. 2023 será um ano muito especial.

A Rua Declama é tão importante para o Vale do Aço que, mesmo sendo um movimento originalmente de Timóteo, esteve presente em diversas edições do Salão do Livro de Ipatinga. Qual a importância da Rua Declama estar inserida em um evento como este?

Quando somos convidados para participar de eventos como o Salão do Livro, eu fico muito orgulhoso pois é um reconhecimento de um trabalho que fazemos com muito carinho e responsabilidade. Eu sempre defendi que nosso movimento deveria ocupar o máximo de lugares possíveis. Onde chamar a gente vai.

Além do audiovisual, sarau, slam, livro, Salão do Livro, a Rua Declama também pode ser considerado um projeto social que faz intervenções artísticas e culturais em escolas, centros de detenção, universidades… como é realizar esse trabalho e quais outros ambientes além destes a Rua Declama chegou? Quais foram as experiências mais marcantes?

Nessa caminhada ocupamos faculdades, escolas e teatros mas as experiências mais marcantes foram sem dúvidas quando realizamos oficinas de poesia e saraus dentro do presídio de segurança máxima de Ipaba e com os adolescentes infratores que estão sob a tutela do estado em Ipatinga. Acredito que a poesia é um instrumento de transformação.

Suas considerações finais, “Zói”  ! 
A poesia transformou minha vida, conheci as pessoas mais incríveis que se pode imaginar, aprendi muito sobre afeto, sobre revolução e sobre resiliência. Sou muito grato a poesia por isso.

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4 de novembro, DIA DA FAVELA https://revistaganja.com/historia/4-de-novembro-dia-da-favela/ Sat, 05 Nov 2022 00:10:02 +0000 https://revistaganja.com/?p=4180 Texto por: Hugo Drosera Foi lá em Canudos, cidade rebatizada de Monte Santo por Antônio Conselheiro, líder religioso e social, e seus seguidores, que constituíram uma comunidade autônoma e independente que abrigava e organizava, principalmente, os famintos da seca, retirantes, ex-militares e até ex-cangaceiros, chamando atenção das autoridades e desafiar as investidas da Nova República, […]

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Texto por: Hugo Drosera

ENTREVISTA COM LEANDRO RIBEIRO – FUNDADOR DA SEDA DE FAVELA

Foi lá em Canudos, cidade rebatizada de Monte Santo por Antônio Conselheiro, líder religioso e social, e seus seguidores, que constituíram uma comunidade autônoma e independente que abrigava e organizava, principalmente, os famintos da seca, retirantes, ex-militares e até ex-cangaceiros, chamando atenção das autoridades e desafiar as investidas da Nova República, proclamada em 1889, sendo portanto considerados “inimigos públicos”. Lá em Canudos, como está registrado por testemunhas oculares dos conflitos, havia o “morro da favela”, por causa de uma árvore que nascia no local, sendo assim chamada de “Faviela”. Mas como o nome chegou a outros lugares e se espalhou pelo Brasil nas comunidades empobrecidas neste país continental tão rico e desigual?

Em 1897 houve o regresso dos soldados vitoriosos da Guerra de Canudos, se é que é possível chamar de vitória o massacre de cerca de 25 mil camponeses no sertão Baiano, cometido por esses mesmos soldados liderados por um general de guerra e 300 toneladas de armas e munições, além de um canhão de 3 metros apelidado “matadeira”. A estes soldados sobreviventes foi oferecido um soldo que não foi pago pelo governo e assim se insurgiu uma revolta no Rio de Janeiro, que desde 1871 passou a abrigar os “filhos” da Lei do Ventre-Livre que chegaram à cidade buscando oportunidades de trabalho e que com a assinatura definitiva da Lei Áurea em 1888, recebeu uma quantidade ainda maior de ex-escravizados. 

Ex-combatentes de canudos e ex-escravizados formaram uma massa empobrecida que passou a ocupar o antigo Morro da Providência, e apelidaram aquela comunidade ao pé do morro de “Favela”, numa trágica lembrança da injustiça que acometeu Canudos e seus habitantes.

Sabemos que a História é por muitas vezes triste e trágica, mas nem só de tragédias é feita a vida. Tão importante quanto a luta, é poder ressignificar essas lembranças e transformá-las em combustível para que se inflamem novas possibilidades para essa massa trabalhadora e criativa que vive pelas favelas do Brasil. Pensando nisso, a Revista Ganja conversou com Leandro Ribeiro, proprietário da Seda de Favela, uma marca de produtos destinados à tabacarias, que vem se alastrando pelo mercado nacional e estampa com sua vida e sua história a representatividade que a Favela merece! 

E aí, será que a Favela venceu?

 Deixa que o Leandro nos responde.

Primeiramente, salve, Leandro! Damos graças pela disposição em conversar com a Revista Ganja! A Seda de Favela é uma empresa que, já no nome, mostra um foco na representatividade da cultura de favela. Conta pra gente sobre o que significa sua empresa pra você:

A minha empresa é um resumo do que eu sou! Pra começar, não somos uma empresa só para vender tabaco ou vender seda… a nossa empresa tem um propósito! A Seda de Favela é uma empresa que enxergou a necessidade do Brasil de incluir, representar e evidenciar as favelas usando arte e cultura em homenagem às mesmas. Tipo assim, eu fiquei quatro anos preso, no fundo do poço… meu amigo até veio aqui ontem, reclamando da vida, sabe o que eu fiz com ele? Falei com ele “vem cá, vem cá, vamo ali na cozinha”… abri a geladeira, peguei um copo de água, bebi e falei “irmão, cê tem noção do que é eu agradecer por isso hoje?! Por que até ontem eu não podia nem fazer isso! Cê sabe o que é a dor do ser humano de ter sua liberdade tirada, não poder abrir a geladeira e pegar um como de água, irmão? Pior ainda, por consequência dos seus próprios atos, tá ligado? Que geraram todo um sofrimento pra mim mesmo”. Na mesma hora ele… (fazendo um sinal de quem se impactou com a mensagem). É pra isso que eu sirvo, entendeu? Eu estava usando minha inteligência para o lado errado, simplesmente… só que eu creio num Deus que tem olhos e está vendo tudo, e eu creio que vamos prestar contas com ele um dia. 

Já ficou claro também que para você não é tabu falar em Deus e sobre a sua situação de ex-detento. Como é a relação entre essas coisas para você? 

Era pra eu estar revoltado, só que eu sou uma agulha no palheiro. Se você fizer uma pesquisa com ex-detentos por aí, eles não tem uma perspectiva de vida, tá todo mundo revoltado, tá todo mundo doente da cabeça, com depressão, ansiedade entendeu? Foi lá dentro que eu tive Deus comunicando comigo mesmo, entendi que Ele permitiu isso. Então eu vou exaltar o nome dele.  Fiquei quatro anos preso, durante dois anos eu não tinha perspectiva nenhuma! Eu tava preso irmão! O que eu ia fazer? Estava morto, pior que Lázaro! Tava morto e enterrado, com o Espírito abatido. Mas a Palavra diz que quando a nossa carne está fraca, nosso espírito está forte.

E essa ideia surgiu lá na detenção ou depois que você saiu? Como foi esse começo?

Um dia eu estava fumando um lá dentro, olhei pra caixinha da seda – não vou falar o nome agora dos amigos que tinham (risos) – e falei “vou personalizar essa p*”! Na mesma hora eu já visualizei e falei pra mim mesmo “vou tirar uma foto panorâmica de cada favela, num lugar maneiro e vou botar nas caixinhas de seda… SEDA DE FAVELA”! Ali eu tive a resposta de Deus, Deus falando assim “fica tranquilo por que tudo que você perdeu não era seu. Não era nada teu por que você conseguiu na tua vida errada. Quando você sair vai montar sua empresa e vai replantar esse caminho maldição que você faz sabendo a Palavra”. Foi isso que eu senti! Eu já tenho isso no meu coração. Eu tento não mencionar o nome de Deus mas eu não consigo, é como se tivesse um fogo serrando meus ossos. 

Imagino que deva ter sido um turbilhão de pensamentos. Como você organizou isso na sua cabeça?

Fiquei cocriando aquela ideia dois anos. Desesperado! Imagina a ansiedade… comecei a treinar, me levantar e não deixei me vencer. Quem manda em mim é o meu espírito e minha alma tava abatida, mas “tá tudo bem”, mas David pregava pra própria alma: “por que te abates? Por que está triste?” Por que da alma vem o sentimento, eu dei uma ordem pra minha alma não se abater por causa daquilo tudo ali que eu tava vivendo la dentro. Foi um tratamento de choque. Se tu não tiver um propósito dentro de você, você não consegue não.

A gente sabe que as leis de execuções penais não são cumpridas no sentido de ressocializar a pessoa em situação de detenção e que são muitos os caminhos que podem levar ao crime. Você tira muita força da fé que cultiva, mas essa energia vem de outros lugares também?

Vem disso tudo aí também, dessa revolta, de querer uma vida melhor, nós somos um país rico, a fazenda do mundo! Então eu tinha toda essa revolta mas não tava expressando ela da forma certa, estava expressando ela com mais ódio ainda. Eu pensava “o que é isso?! A Bíblia diz que eu sou Rei-Sacerdote da Terra, que eu sou herdeiro com Cristo”. Como é que a gente vai viver passando dificuldade? Vendo o filho querendo um picolé e não poder dar… Eu estudei muito, li a Bíblia mais de cinco vezes, fui pra igreja evangélica e tive um encontro com Deus. O ser humano tá vivendo com muita falta de amor. Tá todo mundo carente de prosperidade, o Brasil não precisava nem cobrar imposto!

É notável a criatividade empregada nos produtos. Como você se vê inserido nesse mercado de sedas nos próximos anos?

Eu sou a nova Coca-Cola do mercado de sedas (risos)! Meus concorrentes estão todos milionários, só que eu sou a “Seda de Favela”, eu chego em lugares que eles nem imaginam. Sem querer parecer soberbo, mas eu não sou só uma “marca de seda”. Nenhuma caixinha vai ser igual a outra! Tem caixinha da favela da Rocinha, da Chumbada de São Gonçalo onde eu sou cria… daí tem a mensagem motivadora “riqueza é nossa mente”, “a favela venceu”, “sou da chumbada, nasci pra subir”, e ainda tem escrito sobre as imagens “caixinha não é piteira”, e por que? Por que eu sou um artista, faço a parada com o maior amor pra gente poder colecionar, pra pessoa não rasgar. São imagens reais, entendeu? A seda é de cânhamo, a qualidade é incontestável! O cânhamo é uma matéria muito rica, até o exército americano usa coturno de cânhamo.

Quanto tempo tem a empresa e quais as estratégias para alcançar tantos lugares? Tem algum passo importante que você queira dar?

A empresa fez um ano e quatro meses. Inicialmente a gente tinha uma visão de distribuir “kit” pra um monte de artistas pra divulgar a marca mas agora reorganizamos a empresa. Eu não sou nenhum louco, eu vim do improvável e estamos crescendo nesse conceito! Temos projetos até de preservativo. E o bagulho é só crescimento! Vou participar esse mês do “Rio Inovation”, terei um stand lá, vão ter vários investidores lá. Eu falo pra Deus que se tiver que vir um investidor, que seja uma pessoa que já sabe do entendimento da vida, que não tem olho grande na vida dos outros, pra me ajudar a aumentar a minha empresa. Seria ótimo! Isso aqui tudo veio da minha mente, entende? Quem faz o design de tudo sou eu! Tudo que você vê de design da Seda de Favela quem faz sou eu. Só isso já é um trampo enorme, se tivesse um investimento em um maquinário, por exemplo, eu iria avançar de uma forma… 

São muitos corres nas suas costas! Você não fica sobrecarregado? Essa pilha não descarrega? Espero que você já esteja tendo um bom retorno com tudo isso…

Se eu não fizer, ninguém vai fazer não, cara! É 24h aqui por que eu tenho que fazer um post, fazer um estoque… a gente tá galgando um caminho que não é conto de fadas, isso é trabalho e só planejo ganhar dinheiro mesmo daqui uns anos, ai eu terei o pé não chão pra tirar o meu dinheiro. Enquanto é isso é Seda de Favela pra tudo! Não tem como tirar pra mim por que tem que reinvestir, tem serviços terceirizados, daí tem guerra no mundo e não chega produto, então é tudo uma logística em que eu não sou contador, não sou administrador, eu não sou p* nenhuma! Eu só tenho a ambição de vencer. Minha inteligência tava sendo usada para o mal, não vou fazer pelo bem? Tenho dois filhos, minha mulher tá grávida, virá outro nenenzinho… tenho que fazer isso mesmo, e eu vou fazer por que eu amo, enquanto eu estiver vivo vai ser Seda de Favela.

E a Favela? Como ela tem recebido a seda que leva esse nome?

Qualquer favela que eu entro eu sou bem recebido. Mês passado roubaram o carro do meu pai e me ligaram falando que iriam devolver o carro por causa da minha marca, só pediram um “kit” (risos). E eu respondi “como é que eu não vou te dar, tá doido? Isso daí é pra vocês mesmo”. Tem noção do que é isso? Eu criar um conceito e ver a favela sendo representada. Todo dia eu recebo mensagem de motivação, alguém reconhece a Seda de Favela, alguém começa a seguir.

Passar por tudo isso depois de sair “de lá” deve ser mesmo engrandecedor. Fale um pouco disso, por favor!

O último dia que eu saí daquele lugar eram 6h da manhã, estava amanhecendo, eu vi uma fileira de formiga com um monte de folhinha nas costas daí Deus falou “tá vendo as formigas? Salomão observava as formigas”. Salomão observava as formigas e Deus falou que ele podia pedir tudo e ele pediu sabedoria. Ele observava as formigas por que elas trabalham em comunhão pra sobreviverem no inverno. Eu vim com esse propósito. Não é só por dinheiro. Hoje eu tenho nojo de ideia de crime. Eu falo para os meus amigos que cantam que “se tu soubesse da consequência que isso tem pra tua alma você ia ter vergonha de cantar música de crime”. Eu quero que cantem motivação. O crime é uma forma covarde de se entregar pro sistema. 

Pelo visto, você não pretende se entregar, desde já desejamos força e garra nessa missão. Mas com todas essas incertezas que o país vive, você acha que é uma boa hora para investir num mercado de um produto que ainda não foi totalmente descriminalizado?

Eu vou vencer, irmão! Eu já prometi que se eu juntar 1 milhão de reais, vou distribuir 100 mil pra quem precisa. Eu espero que o Brasil dê oportunidade pra gente crescer dessa forma. O mercado canábico tá crescendo, não pára de abrir head shop e tabacaria. A gente trabalha com material sustentável e eu quero chegar num ponto que a gente tenha brownie da Seda de Favela, óleo, todo tipo de material que a gente puder abranger eu vou querer por que esse crescimento não pára, é notável. É que nem vender papel higiênico, as pessoas vão continuar comprando. Não tem pra onde correr e agora é o nosso momento. É o momento do Brasil da gente ser reconhecido e eu quero viver do meu sonho, é o que eu amo. E, vou te falar, o mundo seria bem melhor! As pessoas estão com uma visão distorcida do mundo. A ideia é sempre passar uma visão, na seda, na postagem, de uma perspectiva melhor do mundo. A planta tem tudo e seguem criminalizando a planta. É uma covardia, e vem mais crise. Essa política econômica que a gente tem já é fracassada. Eu não sou contra nem a favor de um ou de outro. Só sei que é um absurdo! Não tenho que esperar, um país rico, cheio de petróleo, cheio de tudo, a fazenda do mundo. Era pra gente viver num país rico! A gente não tinha que ficar correndo atrás de dinheiro, era pro dinheiro vir até nós. Mas enquanto isso, esse mercado é gigantesco, é muito remédio, é muito benefício, e isso é legalizando uma coisa só, hein. Imagina tanto que isso move no resto do país.

Como você enxerga a crise política no nosso país? Você tem alguma posição definida quanto a isso? Quais suas expectativas para o cenário que se apresenta?

Eu não to critico o Lula por que toda autoridade é instituída por Deus mesmo sabendo que ele já vacilou. Mas beleza, ele tá lá agora, ele tem que apaziguar o povo, fazer a economia girar. Se não for ele é o Bolsonaro, e aí? Essa questão é muito maior. A gente nem usa quase nada do nosso cérebro, a gente tem o entendimento limitado. Se fulaninho fumou uma maconha e não vai pro céu, se o outro jejuou, Deus não tem uma prancheta na mão, não… eu também não entendo essa briga que Ele colocou a gente, mas eu sei que ele ama a gente. Existem milhões de interrogações na minha mente, mas só sei que ele nos criou. O mesmo amigo pra quem eu mostrei o copo de água (começo da entrevista) falou comigo que o inferno é aqui. Eu questionei e ele até me cortou, dizendo que sabia o que eu tinha vivido e eu falei “não, irmão, inferno não é aqui, não é dentro da cadeia, sabe por que? Você vê um filho nascer, não pode ser o inferno. Você ver a felicidade do teu filho, a alegria de uma criança, não pode ser o inferno, você beber uma água gelada, comer uma comida gostosa, não pode ser o inferno!” A gente tá fadado a errar mas o arrependimento é muito importante.  Era pra eu estar em depressão, o que o governo faz com a gente… mas enquanto há vida há esperança.

Sobre o sistema carcerário, o que você pensa das leis e das condições que são dadas ao condenado? Você acha que a lei anda fazendo justiça?

Tenho amigos que estavam lá dentro que hoje vem trocar ideia comigo, outros que estão no caminho ruim de novo mas vem trocar uma ideia comigo. O propósito é esse, na leveza. Por que, imagina, eu fiquei quatro anos, então conheci muita gente. Imagina aquelas pessoas que dividiram comigo lá dentro, comendo pão puro. Quero que elas vejam que se eu consegui, elas podem conseguir também. Sobre a lei, eu penso que se a gente fez errado tem que pagar. Se a gente não paga aqui, paga em outro lugar. As vezes as pessoas enganam a justiça, acham que vai passar batido na vida mas não vai. Tudo que você me perguntar vai ter uma base em Deus por que é nisso que eu creio. Sobre lei, é a lei que a gente tiver que cumprir. Mas que seja uma pena justa. Não vai dar pena máxima pra quem roubou uma batata frita no mercado. E sobre a maconha, por mim já pode descriminalizar e soltar tudo. O cara ficar preso por um bagulho que é remédio… eu fico triste, a raiz é muito profunda. Eu sei que minha pena foi justa, que foi justo o que eu passei, eu tive que pagar. Você acha que eu reclamo? Glória a Deus, por que era pra eu estar morto! De ter a oportunidade de fazer o que eu amo, mas que a lei seja justa para cada um. Mas quem vai fazer essa lei justa? Quem vai reformular essas leis? Tem muitas coisas… esse é um assunto muito complexo.

Sei que esse é um assunto sensível, porém a gente sabe que as leis de execuções penais não são cumpridas regularmente e que o sistema carcerário cria pouca ou nenhuma condição de ressocialização. Qual a sua opinião sobre a organização dos presídios nesse sentido?

Isso aqui é o Brasil, era para o presídio estar igual casa de madame. Isso não ia isentar o preso de pagar o castigo dele. Isso que eles não entendem. Não adianta deixar o presídio como tá, desumano, isso só piora tudo. A raiz taí também. Você pode estar numa casa de luxo, se você ficar preso 24h você ficará maluco. Você tá preso! Não vai ter luxo ali que vai ter fazer ficar perto da tua filha, da tua mãe, o castigo já está acontecendo. Mas eles pioram a cadeia, já fiquei no isolamento, tinha gente que dormia em pé, a comida vir com caracol, com pedra. Nem todo mundo vai ter a mente do “Leandro Ribeiro”. Aí vem outra raiz: a pobreza e a desigualdade, e isso vem antes da cadeia. Tem um monte de gente dentro da favela que não tem mesmo a oportunidade, não tem! As vezes nenhuma mesmo! “Ah, vai vender doce na rua”, mas não dá pra sustentar dois ou três filhos. “Ah, mas por que foi ter dois, três filhos”, eu vou julgar?! A princípio tem que legalizar a maconha mesmo, parar de prender gente por causa de prensado… imagina se pudesse plantar em casa? Que isso, pelo amor de Deus! Vai arriscar plantar uma planta gringa, pega dois, três anos de cadeia. Os caras lá fora fumando só iguaria e a gente aqui fumando prensado e virando bandido. 

Alguma consideração final sobre isso? Deixa uma mensagem pra gente!

A gente vai trazer pra cá o mundo agora, vai mudar! Não precisa nem ir buscar, vai chegar até o Brasil. Papo reto!

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Luna Vargas – Ciência da Cannabis Aplicada https://revistaganja.com/bate-papo/luna-vargas-ciencia-da-cannabis-aplicada/ https://revistaganja.com/bate-papo/luna-vargas-ciencia-da-cannabis-aplicada/#comments Sun, 22 May 2022 19:20:48 +0000 https://revistaganja.com/?p=3737 Luna Vargas, Empreendedora, mestra em Antropologia, Educadora Canábica e Fundadora da INFLORE, curso de formação de consultor canábico.
Vinda recentemente do Canadá, chega ao Brasil e de imediato começa seu trabalho. Ela passou pela Bahia, Paraíba, Brasília e São Paulo, onde tive o privilégio de encontrá-la. Sempre difundindo o seu conhecimento e amor a Ganja.

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Texto por: Andréa Terra | Arte por: Natália Lobo

A revolução não para!

Luna Vargas, Empreendedora, mestra em Antropologia, Educadora Canábica e Fundadora da INFLORE, curso de formação de consultor canábico.

Vinda recentemente do Canadá, chega ao Brasil e de imediato começa seu trabalho. Ela passou pela Bahia, Paraíba, Brasília e São Paulo, onde tive o privilégio de encontrá-la. Sempre difundindo o seu conhecimento e amor a Ganja.

O encontro em São Paulo – Ciência da Cannabis Aplicada da teoria à prática, aconteceu nos dias 19 e 20/02/22, juntamente com o pessoal da Overgrow e a Associação Cultivando o Bem. 

O evento contou com 50 participantes, na sua maioria inflores, alunos da Luna, vindos de vários estados do Brasil e que estão comprometidos com a missão de educar o próximo.

O Brasil tem um modelo único de negócio no mundo em relação à cannabis medicinal, que é a legalização da importação dos medicamentos e a proibição do plantio da cannabis, salvo para quem tem Habeas Corpus e para algumas Associações. 

Esse modelo dificulta o acesso ao medicamento, limita a pesquisa, e deixa de gerar uma enorme cadeia produtiva que poderia promover mais empregos e renda para o país.  Atrapalhando a Indústria da Cannabis brasileira, que tem diferenças gritantes em relação a Indústria Farmacêutica. Que é o conhecimento sobre a da planta e a preocupação com a reparação histórica 

” Indústria da cannabis não é indústria farmacêutica

No encontro, Luna Vargas fala das várias possibilidades de trabalho na indústria da Cannabis, mesmo neste cenário proibicionista. E afirma que a educação em relação a Ciência da Cannabis impacta na criação e permanência dessas possibilidades.  

As Head Shop são um exemplo dessas possibilidades, que trabalham com tudo menos o recheio (como ela mesmo diz) Já fazem parte da indústria da cannabis, com o conhecimento sobre redução de danos e métodos de consumo.  E quem sabe no futuro elas sejam o espaço de consumo de produtos à base de cannabis, com objetivo de proporcionar segurança e qualidade para os pacientes.

” A Gente tem que se entender como paciente

Ela conta que nos EUA e no Canadá, há 30 anos atrás, já existia os clubes de compaixão, um modelo associativo bem parecido com as associações brasileiras e tinham um papel fundamental em promover o acesso a medicação para pacientes assim como acontece hoje no Brasil. O conhecimento dos pioneiros no plantio e na fabricação dos medicamentos podem fazer com que as associações se tornem indústria da cannabis, com fins lucrativos e supra a necessidade dentro da legislação  

” Tudo depende de como vai ser feita a legislação

Questionada sobre a Legalização federal dos Estados Unidos ela ressalta que por serem uma grande potência e terem uma cultura de cannabis muito forte é algo esperado pelo mundo todo. E com certeza assim que eles legalizarem o resto do mundo vai no embalo.  

” Independente do governo que tiver, quando os Estados Unidos legalizar vai ter pressão

Luna enfatiza sobre o nosso privilégio e lugar de fala a respeito do posicionamento individual e coletivo com relação a cannabis, lembrando que 2022 é ano de eleição. Deixa claro que existe um longo caminho pela frente e que ele vai ser feito passo a passo. Ter representação legal vai ser essencial. São as forças das mobilizações locais, assembleias, projetos de lei, que vão dar visibilidade a cannabis medicinal e assim consequentemente atingir a esfera federal

” Não tem como ser candidato a presidência da república e não ter política de plano de governo para cannabis

Esse evento fortaleceu as convicções dos participantes, proporcionou uma visão da realidade com clareza sobre o que está acontecendo no mundo e no Brasil e deixou claro a importância da educação neste cenário.

” Para estabelecer a indústria da cannabis no Brasil precisamos de ter o máximo de pessoas possíveis apaixonadas por essa planta e essa causa atuando. Por isso, se você tem interesse nesse mercado, entre, faça o que você já faz de melhor e colabore para que essa planta melhore ainda mais a qualidade de vida das pessoas.

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